Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
Diz-se que criticar é mais fácil do que elogiar. Talvez por isso haja pouca menção à política do Banco Central com relação ao dólar e aos juros nas últimas semanas. Claro, não se trata de unanimidade: há investidores de peso – nacionais e internacionais – que pressionam pela desvalorização do real e por elevação da taxa de juros, até porque a inflação, com o caminhonaço e a elevação do preço do petróleo, acelerou-se, o que diminui os rendimentos reais das aplicações financeiras. Movimento semelhante ocorreu com relação à Turquia e à Argentina, e estas cederam. Já aqui, o Banco Central tem vencido a queda de braço ao impedir maior desvalorização do real e, nos últimos dias, cogitou mexer nas reservas, pois, apropriadamente, prefere atuar por meio de swaps (promessa de venda em mercado futuro) e leilões de linha. O Brasil quer mostrar que, ao contrário de outros países emergentes e de crises do passado, hoje tem reservas de US$ 382 bilhões e sem dívida interna expressiva dolarizada – herança dos anos áureos da demanda chinesa por commodities.
Já com relação à Selic, o fato de o Copom mantê-la em 6,5% ao ano – sob o argumento de que a pressão sobre a inflação vem dos custos e que elevar juros tem consequência nefasta sobre o déficit público – só não o saúda quem não acompanha o passado da instituição. Mesmo há pouco, com as incertezas políticas do impeachment e do “caso Temer/Joesley”, tentava-se segurar a inflação pelos juros, medida custosa e pouco eficaz nas turbulências. Lembrar que isto é um tiro no pé, pois eleva a própria dívida pública, nunca foi tese do banco nem mesmo no período dos governos tidos como “de esquerda” do início do século.
A mudança, portanto, não é desprezível. Mas, como nada acontece por acaso, resta indagar sobre suas razões. Pode ser a própria gravidade da crise, que não dá sinais consistentes de reversão, além de um segundo semestre à frente de grandes incertezas. O cenário internacional só piora com os protecionismos. E nunca se chegou tão perto de uma eleição presidencial sem se saber quem são os favoritos e mesmo quais são os candidatos. Talvez o Banco Central tenha aproveitado para dar uma demonstração de força frente às pressões de vários matizes. Se terá cacife para manter o braço forte é o que veremos de ora em diante.