Por Rosangela Matos, coach de relacionamento e analista comportamental
Eu… sou brasileira, com muito amor. Mas não há como me orgulhar. Depois de uma semana de tanta repercussão negativa envolvendo torcedores do nosso país em meio ao maior evento esportivo do mundo, digo que eu… sou brasileira, com muita vergonha! O vídeo de um grupo de torcedores brasileiros constrangendo uma mulher russa com um canto machista, usando palavras de baixo calão, virou manchete no mundo. Viralizou nas redes, nos expôs mais uma vez, nos revoltou. Quantas vezes já vimos e ouvimos nos estádios "brincadeiras" como essa? Muitas vezes ficamos sem entender, rimos sem achar graça, engolimos o choro, calamos para tamanho machismo e desrespeito. A torcida é a alma dos estádios, o coração que bate mais forte nas arquibancadas. Mas até que ponto a paixão pelo futebol e a empolgação justificam atitudes como essa? Nada. Nada justifica! Nem a euforia, nem os copos de cerveja a mais, nem o fato de poder estar sendo influenciado pelo grupo. Torcedores de outros países vêm compactuando com a mesma covardia dos brasileiros.
Depois da divulgação nas redes, argentinos e peruanos também gravaram vídeos semelhantes, usando palavras de cunho sexual e humilhando mulheres estrangeiras na Rússia. Essa torcida não representa uma seleção, muito menos uma nação. Esses episódios lamentáveis vão contra o espírito do maior evento esportivo do planeta. A Copa do Mundo é mais do que uma festa. É uma das oportunidades mais incríveis para socializar, para deixar as diferenças de lado e encher a mala de bagagem cultural.
A "brincadeira" de extremo mau gosto foi uma derrota para todos nós. Mais um exemplo de que temos muito a evoluir na luta diária por mais respeito às mulheres. Segundo a OAB-PE, o Brasil é o quinto país no ranking mundial de violência contra a mulher e a cada dois segundos uma delas é vítima de violência física ou verbal no país. Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade que compactua com a cultura machista, que cobre com panos quentes atitudes como essa.
Precisamos repudiar esse tipo de ação e em hipótese alguma vê-la como imaturidade, falta de bom senso ou fato engraçado. O episódio lamentável fere a russa, mas também a brasileira, a senegalesa, a francesa, a todas nós. Por esta razão, o coro que mais ecoou no Brasil foi o de uma imensa torcida de anônimas e famosas perplexas com o ocorrido em pleno século 21. Nossa tristeza e indignação foram compartilhadas em massa nas redes sociais e nos fizeram refletir sobre os limites de uma torcida antes, durante ou depois de um jogo de futebol. O que vimos foi a confirmação de que ainda existem homens que enxergam a mulher como objeto e acham que ela pode ser desrespeitada e humilhada sem a mínima consideração. Não pode! Não mais.
O episódio revoltante foi na Rússia, mas ele também acontece no Brasil – no estádio do seu time, na fila do ingresso ou na arquibancada. E é nessa hora que a nossa torcida fica mais forte por uma bandeira que nos une a cada dia. #Deixaelatrabalhar, #Deixaelatorcer, #MexeuComUmaMexeuComTodas. É preciso vencer o machismo! Nossa torcida também tem alma, tem voz.