Por Odorico Roman, economista e vice-presidente do Grêmio nas gestões 2013-2017
Do tênis à Fórmula 1, do basquete à natação, a tecnologia é utilizada de forma crescente em todos os esportes, tanto para melhorar desempenhos, quanto para enriquecer os espetáculos. O futebol não é alheio a essa realidade. As inovações povoam o mundo desse esporte e a Copa da Rússia será um show de tecnologia aplicada ao futebol. Porém, o uso de alguns recursos tecnológicos nas ações do jogo propriamente dito tem produzido divergências de opinião. Talvez a maior polêmica atual do futebol seja a introdução pela Fifa do Árbitro de Vídeo (VAR, na sigla em inglês). O futebol aceita novidades, mas não toda e qualquer novidade. As que podem alterar as decisões da arbitragem, tais como a bola com chip e, principalmente, o VAR, provocam grande controvérsia. Os críticos do Árbitro de Vídeo argumentam que o recurso irá truncar o andamento do jogo. No entanto, dados coletados pelo International Football Association Board (IFAB) rebatem de forma contundente essa visão. Em 800 partidas analisadas, as cobranças de faltas consumiram, em média, nove minutos, os arremessos laterais sete minutos, os tiros de meta quase seis minutos, os escanteios quatro minutos e as substituições três minutos.
Um terço de um jogo de futebol é despendido nesses eventos. Comparativamente, o tempo médio de interferência do VAR foi de apenas um minuto. Outra alegação muito utilizada sustenta que o VAR não vai corrigir todos os problemas das arbitragens. Logo, o futebol deve ser deixado como está. No coração de quem sofre ou comete os erros, a lógica tende a ser outra. Nada frustra ou revolta mais um torcedor do que ver uma vitória ou um título ser perdido por um erro de arbitragem. Nada marca mais negativamente a carreira e a reputação de um árbitro do que um erro bizarro destacado à exaustão em todas as mídias. Ademais, é importante observar que os criadores do sistema VAR não pretendem fazer a assepsia das arbitragens, justamente para não interferir demasiadamente no fluxo das emoções do jogo.
A filosofia que norteia essa tecnologia é demarcada pelo princípio "mínima interferência – máximo benefício". Assim, sua influência se restringe a situações-chave: análise dos gols, dos pênaltis, dos cartões vermelhos diretos, além de casos de identidade trocada e incidentes sérios perdidos pelo juiz de campo. O VAR só interfere se houver convicção de que a decisão tomada no gramado foi claramente equivocada, mas a palavra final permanece com o árbitro principal. Além disso, este poderá dispor da revisão de lances, por sua iniciativa, quando entender necessário. O uso de novos recursos tecnológicos torna os espetáculos mais atrativos e, no caso do VAR, certamente trará mais justiça ao futebol e poupará carreiras de juízes, ao dar-lhes oportunidade de repararem a tempo erros cometidos por quem precisa decidir numa fração de segundos. Tecnologias que geram justiça são sempre bem-vindas. Com o uso dos recursos de vídeo, pode se dizer que as arbitragens só cometerão erros graves se quiserem. Ganha o futebol.