Os fatos demonstram a falência do sistema de governança do Brasil atual, evidenciada nas disfunções ocorridas durante a mobilização dos motoristas contra o aumento dos combustíveis. Começou pela incapacidade do governo de dialogar, visando a solucionar a crise prenunciada. A postura da Petrobras, de não subsidiar combustíveis de forma manipulativa como fazia no passado, é justificada. Injustificável foi a modalidade diária de reajustar, favorecendo manipulações no sistema de distribuição e um total descontrole de preços, além do impedimento negocial dos motoristas de repassar essas flutuações ao usuário final. A greve, sua causa e as manifestações tinham justificativas e aprovação social. Entretanto, esta situação socialmente legitimada foi utilizada para atender, de forma ilegal, a interesses de grupos empresariais com um locaute. Grupos políticos se somaram para esvaziar o desprestigiado governo Temer pelas denúncias de corrupção. Essa situação exacerba ainda mais o emocional social de insatisfações frente ao caos que vivemos, em que não se veem perspectivas positivas de se ter o “Brasil que queremos”. Isso gera movimentos do tipo “intervenção militar já”, almejando uma atitude intervencionista que imponha uma ordem pública.
A crise paralisa o Brasil e demonstra a incapacidade do poder público de garantir o direito constitucional de ir e vir, possibilitando que minorias sobreponham seus interesses sobre os demais. Uma negociação infindável e leniente impede o cumprimento efetivo da lei, caracterizando uma sociedade dos inúmeros direitos sem os correspondentes deveres para com o conjunto da sociedade. A leniência do poder público, incapaz de agir devido ao seu enfraquecimento político, e a intransigência negocial dos motoristas têm causado prejuízos bilionários ao país. Preocupa-nos que o sucesso deste movimento sirva de modelo para outros setores se mobilizarem, tornando o poder público refém dos seus interesses e, com isso, penalizando o conjunto da sociedade. Causa-nos estranheza a isenção dos demais poderes, que não manifestaram uma posição mais ativa na gestão da crise que afetou de maneira drástica a combalida sociedade brasileira. Essas situações exigem um comitê de crise do qual participem, além do Executivo, o Judiciário, o Legislativo e o Ministério Público, buscando determinações e ações convergentes para serem implementadas com agilidade e atender às demandas da sociedade. A imagem externa do Brasil se confirma cada vez mais: é o país das inseguranças jurídicas, com uma governança incapaz de administrar suas crises.