Na série da Netflix O Mecanismo, de José Padilha, que narra a história da Lava-Jato, há uma cena icônica. Presos em suas celas, Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef comemoram, como se fosse um gol em final de campeonato, a notícia de que seus processos subiriam para o STF. Era a certeza de que a Justiça tardaria muito e falharia. Amanhã, o Brasil vai saber se o mecanismo continua funcionando.
Afora o país inteiro, há duas pessoas diretamente interessadas na votação: Lula e Bolsonaro. Lula, por óbvio, pode garantir liberdade eterna. Se escapar pelas mãos do STF, jamais será pego por mais ninguém, já que sua impunidade também será a de outros poderosos irmanados na defesa do eterno mecanismo que os protege e enriquece. Já Bolsonaro pode estar decidindo sua vida política por tabela. Se o STF validar a prisão após a segunda instância, Lula será preso, não disputará a eleição, e o país seguirá por um de dois caminhos: ou vai entrar em polvorosa social, e aí Bolsonaro cresce, ou o país vai acalmar os ânimos e até fingir certa normalidade, cenário no qual Bolsonaro tende a perder alguma força, vigor e discurso. Porém, no caso de o STF conceder o habeas corpus a Lula, impedindo sua prisão após a segunda instância, aí então Bolsonaro terá tido seu maior cabo eleitoral em 2018. Bolsonaro não será mais só um salvador da pátria, mas um vingador, um justiceiro, um soldado universal contra o demônio da safadeza. Com sua postura “contra tudo que está aí”, Bolsonaro se aproveitará da ilusão de ótica coletiva de que, com sua eleição, o mecanismo deixará de existir. Mas até os paralelepípedos de Brasília sabem que o mecanismo terá apenas trocado de cor, saindo do vermelho e azul para o verde oliva.
Amanhã será um divisor de águas no Brasil. Poderemos terminar o dia lembrando Cazuza: o Brasil vai mostrar sua cara e saberemos quem está pagando pra gente ficar assim, qual é o negócio e o nome dos sócios. Ou poderemos terminar o dia lembrando Guilherme Arantes: amanhã, mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam ver o dia raiar.
Quem dera amanhã a Rosa não venha com espinhos, e um dia, quem sabe, tenhamos ódios aplacados, temores abrandados e um país que será pleno.
Amanhã está toda a esperança, por menor que pareça.