Porto Alegre, a cidade em que escolhi viver, é hoje uma das seis capitais mais violentas do país e está entre as 50 cidades mais perigosas do mundo. Vivemos todos, porto-alegrenses de nascimento e de coração, uma realidade que há muito passou do aceitável e que, infelizmente, é semelhante de norte a sul do Brasil.
O que fazer diante dessa realidade? Em uma democracia, o caminho primeiro é o voto consciente e a posterior fiscalização das ações e dos serviços públicos por parte da sociedade. Ocorre que, no Brasil em que vivemos, já não é suficiente apenas votar e cobrar. Infelizmente, a meu ver, a sensação de insegurança que todos sentimos precisa de mais do que discussão de teses sobre o tema. É preciso uma ação efetiva, emergencial, para enfrentar o problema. Precisamos todos agir.
Foi nesse contexto que surgiu em Porto Alegre uma iniciativa de empresários locais de arrecadar recursos financeiros para apoiar o reaparelhamento das forças de segurança, com o objetivo de melhorar as condições de trabalho de quem tem o dever de enfrentar a criminalidade, atuando em parceria com o poder público. Por meio do Instituto Cultural Floresta (ICF), foram arrecadados mais de R$ 14 milhões e investidos em veículos e equipamentos para serem doados à Brigada Militar e à Polícia Civil. Estas doações foram entregues ontem para os órgãos de segurança pública do Estado. É um primeiro passo e um admirável exemplo.
Não lembro de uma ação de tamanha relevância e de resultados tão concretos nos últimos tempos
Dois aspectos dessa iniciativa são muito inspiradores. O primeiro é a capacidade de mobilização do grupo de empresários que pôs a mão na massa e buscou recursos financeiros relevantes para uma causa específica, atuando em conjunto com o poder público e também chamando para si responsabilidades que deveriam ser, prioritariamente, dos órgãos públicos. A participação ativa de toda a sociedade é condição essencial para se reduzirem de forma significativa os índices de criminalidade e a sensação de insegurança, conforme pode ser visto em várias cidades que registram iniciativas bem-sucedidas nesse campo.
O outro ponto é o fato de essa mobilização ter sido liderada por um grupo de jovens empresários, que conseguiram romper alguns paradigmas tradicionais e transformaram as discussões em contribuições objetivas e concretas à causa da segurança pública. Não lembro de uma ação de tamanha relevância e de resultados tão concretos nos últimos tempos no Rio Grande do Sul. É uma nova postura, que busca pontos de consenso, deixando para trás teorias e polarizações que tanto atraso provocaram no Estado. A iniciativa tem grande potencial para ser ampliada, a partir da participação de toda a sociedade. Com as primeiras doações, vemos que é possível realizar e isto me parece de grande significado para todos.