Um grupo de empresários doou R$ 14 milhões ao Estado para equipar segurança pública. O recurso será destinado para a compra de 46 veículos Pajero à Brigada Militar de Porto Alegre e à Polícia Civil, além de armas a coletes. A entrega das viaturas será feita no dia 28.
Conforme o presidente do Instituto Cultural Floresta (ICF), Leonardo Fração, a ideia é reequipar os órgãos de segurança na Capital, seguindo iniciativa de empresários de outras cidades como Nova York (EUA), Medellín (Colômbia) e Monterrey (México) para reverter a criminalidade:
— A gente quer dar o exemplo de que se nos juntarmos, conseguimos resolver os problemas. Se cada um ajudar um pouco, podemos construir uma sociedade melhor.
Das 46 viaturas, 26 irão para o Batalhão de Operações Especiais (BOE), que receberá ainda 120 coletes à prova de balas e um ônibus adaptado. Outros 14 veículos serão utilizados no 9º e 11º batalhões de Polícia Militar. Segundo o presidente do instituto, os batalhões contemplados atuam em áreas populosas e concentram intensa atividade comercial.
A Polícia Civil será beneficiada com seis veículos, que irão para o Grupamento de Operações Especiais (GOE).
De acordo com Fração, a escolha dos veículos (avaliados em cerca de R$ 150 mil) se deve ao custo "razoável" de manutenção e à "robustez".
— É um carro ideal para a polícia. Em todos os lugares do mundo, uma das coisas mais importantes é a polícia mostrar força com equipamentos adequados para que as pessoas se sintam seguras — observa Fração.
O grupo de empresários também pretende adquirir armas para a Brigada Militar. Segundo Fração, a compra será feita pela corporação e, depois, o instituto fará o pagamento.
Intenção de investir até R$ 300 milhões
A expectativa dos empresários é nos próximos anos juntar R$ 300 milhões que devem ser usados na construção de dois presídios, na aquisição de mil carros e 10 mil pistolas e no financiamento de 5 mil bolsas de estudos, entre outros itens.
— Os R$ 300 milhões são muito mais do que um desejo. Esses R$ 14 milhões são a primeira etapa. Se a sociedade aprovar, vamos continuar com o trabalho — observa Fração.
Esta não é a primeira iniciativa dos empresários. Em março do ano passado, o grupo se mobilizou para conseguir consertar mais de cem viaturas da Brigada Militar, a partir de um convênio com as concessionárias.
Governo criou Fundo Comunitário para receber doações
Conforme o secretário da Segurança Pública, Cezar Schirmer, o gesto dos empresários é uma importante forma de participação da sociedade.
— A Constituição já diz que a segurança é obrigação do Estado, mas dever de todos. Há uma tragédia no país, um problema gravíssimo, hoje a segurança não é mais assunto stricto sensu (limitado). A segurança é saúde, educação, desenvolvimento econômico, é qualidade de vida — observa o titular da pasta.
Schirmer nega que tenha havido exigência dos empresários para monitorar uma área específica da Capital como forma de contrapartida à doação. Segundo o secretário, houve uma "construção" entre as duas partes para definir a região de emprego dos veículos.
— Mesmo que seja a doação para uma área específica, acaba liberando veículos dessa área para outras com carência. Viaturas que estavam no Petrópolis, por exemplo, podem ser destinadas para a Restinga — detalha.
O governo do Estado criou um Fundo Comunitário para receber doações, desvinculado do caixa único do Piratini, para evitar que o recurso seja destinado a outros setores. Além disso, o governo encaminhou projeto para reduzir o ICMS em doações públicas. No caso de veículos, o desconto ficaria em 18%.
Segundo o chefe da Polícia Civil, delegado Emerson Wendt, as viaturas devem ser utilizadas no novo departamento da corporação — a Coordenadoria de Recursos Especiais — que vai reunir o Grupamento de Operações Especiais (GOE) e A Divisão de Serviços Aéreos. O decreto que cria a repartição já foi aprovado.
— Essas viaturas vão ajudar em muito o trabalho da polícia. São extremamente importantes — observa o delegado.
A ideia é fazer remanejo das viaturas que estão com o GOE para outros departamentos operacionais da corporação.
O comandante do 1º BOE, tenente-coronel Cláudio dos Santos Feoli, entende que as novas viaturas são "essenciais" para melhorar as condições de trabalho do contingente.
— Vem com equipamentos que não temos. A maioria vem com kit antivandalismo, todas são a diesel e quatro por quatro. A configuração da viatura propicia que quatro policiais fiquem bem instalados — salienta Feoli.
A doação vai renovar totalmente os veículos do batalhão. O 1º BOE tem 46 viaturas que serão remanejadas para outros setores da Brigada Militar. A distribuição ficará a cargo do comando da corporação.
Hoje o BOE atua em regiões mais conflagradas da Capital, em protestos, na verificação e desarme de bombas e ocorrências com reféns.
As viaturas
As 14 Pajeros serão utilizadas no 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM) _ responsável pela região central da cidade e ilhas — e ao 11º BPM — com abrangência na zona norte. Outras 26 viaturas irão para o Batalhão de Operações Especiais (BOE) e seis para a Polícia Civil. O BOE também irá receber um ônibus adaptado.
O dinheiro
Os recursos arrecadados foram reunidos pelo Instituto Cultural Floresta. Segundo o presidente da entidade, participaram da iniciativa 30 pessoas e 25 empresas. Nenhum deles teve o benefício da isenção tributária. O nome dos empresários participantes não foi divulgado. Segundo o presidente da entidade, a intenção é evitar "publicitar" a doação.