Se quisesse fazer sucesso com minha coluna, eu amplificaria argumentos já conhecidos contra grupos sociais específicos. Tenho, no entanto, essa mania de olhar por ângulos pouco explorados. Assim, sigo desconhecido e fiel ao meu espírito.
Pois hoje quero falar de uma verdade inconveniente que reside no núcleo da economia brasileira: a instrumentalização política do crédito agrícola subsidiado.
Todo mundo já ouviu aquela narrativa dos ruralistas sobre estarem alimentando o mundo e fazendo a economia brasileira girar. Mentira e mentira.
Primeiro que o desafio de nutrir a população mundial é reconhecidamente distributivo e qualitativo. Hoje, já produzimos mais calorias do que precisamos. A questão é fazer chegar, sem impacto ambiental excessivo, alimento realmente nutritivo a lugares onde vivem pessoas com baixa renda. Plantar soja no Brasil não ajuda nessa tarefa. Só faz chegar alimento processado em quem tem grana para pagar pelo marketing da indústria alimentícia.
Segundo que, desde a ditadura, os grandes produtores brasileiros são fortemente subsidiados pelo Estado. Ou seja, se você ouvir alguém de relho na mão falando de meritocracia, desconfie. É grande a chance de você estar sustentando a criatura sem saber. Foi a maneira que o regime militar encontrou de conseguir apoio nos confins do Brasil, estratégia que segue em pleno uso.
Finalmente, o contra-argumento racional: outras nações bem-sucedidas têm políticas fortíssimas de crédito rural. A diferença é que elas incentivam a pequena ou média operação produtiva de alto valor agregado. Foi assim que Chile e Israel construíram a economia diversificada que têm hoje. É assim que países europeus conseguem difundir suas identidades locais a partir de produtos alimentícios. Até Ruanda já está fazendo. Enquanto isso, nós continuamos enchendo o bolso de produtor de commodity que mantém o Brasil na lama.