Além dos prejuízos provocados à agropecuária e a famílias de municípios da parte meridional do Estado, a estiagem choca pelo descaso com que as consequências da falta de chuva vêm sendo tratadas sucessivamente nos últimos anos. Em Bagé, município afetado de forma contumaz pelo fenômeno climático, a população sofre ainda mais do que o esperado pelo fato de o projeto de uma barragem com o objetivo de atenuar os problemas estar parado há anos. O resultado é que, embora as razões sejam climáticas, a pouca disposição de gestores públicos de maneira geral para enfrentar o problema acaba contribuindo para agravar os prejuízos. No Estado, a estimativa é de que os danos já alcancem no mínimo R$ 750 milhões só na agropecuária.
No caso específico da Barragem de Arvorezinha, na Campanha, vista como paliativo contra as secas, as obras até chegaram a ser iniciadas em 2011. Dois anos depois, o projeto foi embargado por uma razão que se se repete rotineiramente no país: suspeita de fraude na licitação. O plano, hoje, poderia ser retomado facilmente do ponto em que parou, mas não consegue ir adiante em consequência de um emaranhado de questões jurídicas e burocráticas. Pior: o valor orçado inicialmente deu um salto e, agora, faltam recursos para integralizá-lo.
Por razões semelhantes, os prejuízos e contratempos se espalham por boa parte da chamada metade sul. As explicações vão da falta de preocupação com a busca de alternativas de médio e longo prazo até irregularidades no uso de dinheiro público. Em consequência, muitas famílias estão sem ter o que beber, e as prefeituras têm dificuldade até para custear caminhões-pipa. A falta de água prejudica o comércio, além de causar danos consideráveis sob a forma de quebra na lavoura de grãos e de fumo, redução do peso de animais e diminuição da produção de leite.
Gestores públicos são eleitos para tratar de questões imediatas, como saídas emergenciais para garantir água potável aos munícipes neste momento. Têm também o dever de projetar medidas de médio e longo prazo para preservar o agronegócio. E precisam agir preventivamente para evitar situações que, como a seca, se repetem a cada ano.
O fenômeno da falta de água, que volta a se repetir em uma vasta região do Estado, chama a atenção para a urgência de ações preventivas, de forma coordenada, por parte de gestores públicos. Essa é uma área para a qual, sem pressão permanente por parte das comunidades, as providências só começam a ser pensadas depois de os prejuízos se mostrarem inevitáveis.