Se o Rio de Janeiro não vivesse um caos na segurança pública, não haveria necessidade de uma medida tão radical como a intervenção federal nessa área. É lamentável e assustador que se tenha chegado a esse ponto num Estado onde o próprio governador, Luiz Fernando Pezão, reconhece que suas forças policiais já não são capazes de controlar o crime. A essa altura, porém, a decisão do presidente Michel Temer é a mais responsável, mesmo que a um custo político e econômico ainda difícil de mensurar, mas certamente considerável.
O Rio de Janeiro não só é a principal vitrine internacional do Brasil: é a caixa de ressonância nacional e, infelizmente, centro difusor de práticas criminosas. A disseminação do crime organizado pela sociedade e até mesmo entre instituições vem desde o poderio do jogo do bicho e da explosão das drogas nos anos 1970 e 1980, até alcançar a sofisticação bélica do crime organizado que a sociedade vivencia hoje no seu cotidiano.
Até mesmo a polícia do Rio, que a partir de agora passa ao comando das Forças Armadas, é notoriamente corroída pela corrupção. Seguramente os serviços de inteligência federais têm informações sigilosas sobre a gravidade do problema, mas um indício claro de sua dimensão é a ineficácia das recentes operações conjuntas das Forças Armadas com a polícia carioca para prisão de bandidos e apreensão de armamento. É mais do que evidente que as organizações criminosas vêm sendo alertadas com antecedência sobre as ações federais.
Assim, o que se constata hoje é uma cruel reprise de um filme que já se viu na Colômbia dominada pelo tráfico nos anos 1980 e 1990. Não resta outra saída a não ser a intervenção em um serviço tomado pela corrupção e pela incapacidade de reagir aos desafios de proteger a população fluminense.
O ideal, agora, é limitar ao máximo o tempo de emprego das Forças Armadas, que não têm treinamento para ações de policiamento. A intervenção também não funcionará se ficar restrita a operações ostensivas. O sistema de segurança do Rio, reflexo também de sucessivos governos movidos pela corrupção, precisa sofrer uma profunda cirurgia para extirpar o câncer da corrupção e da promiscuidade com o tráfico.
A aposta é alta. Como última linha de defesa da sociedade, o emprego das Forças Armadas no Rio de Janeiro não pode ser desmoralizado pelo crime.
E o sucesso na intervenção está condicionado também ao apoio político e da população de bem, antes que o tumor do crime generalizado e infiltrado no poder se espalhe para outras regiões, provocando consequências sociais de proporções nunca antes vistas no país.