A decisão do governo federal de suspender a votação da Reforma da Previdência na prática enterrou a possibilidade de uma mudança no atual mandato. A reforma é tão impopular quanto imprescindível, e o fato de ter sido despachada para o limbo de Brasília explica muito das motivações que guiam grande parte dos políticos brasileiros. A Previdência brasileira é reconhecida internacionalmente como uma das mais injustas para alguns e benevolentes para outros. Em nenhuma grande nação do planeta é possível se aposentar aos 50 anos _ ao contrário, na maioria dos países, a idade mínima está subindo para 65 anos ou mais, em razão do aumento da longevidade. Desconhece-se também sistema tão permissivo com as aposentadorias de servidores públicos de vencimentos mais altos. Mesmo em países ricos, a regra comum é o servidor público ganhar na aposentadoria em torno de 70% do que recebia em atividade, e não a integralidade de vencimentos carregados de penduricalhos que furam o desmoralizado teto salarial.
É compreensível e natural que ninguém queira abdicar de privilégios, ou de direitos. Mas a estrutura de custos públicos do Brasil está ficando cada vez mais parecida com a do Rio Grande do Sul, onde sucessivos governos, com aval do parlamento, incharam a máquina pública e fizeram concessões salariais a corporações difíceis de serem justificadas em outras latitudes. A sombra da falência do modelo gaúcho deveria ter servido de alerta nacional, mas não foi o que se viu. Poucos parlamentares, mesmo da base do governo, tiveram coragem de vir a público e, apesar do desgaste previsível, assumir sua responsabilidade com o futuro do Brasil e das próximas gerações. Defender a reforma não é só uma necessidade para garantir um mínimo de saúde para o sistema, mas, em decorrência de um déficit abissal, também para manter a estabilidade econômica do país duramente conquistada no último quarto de século. Como se viu no Congresso, muitos congressistas preferiram vestir o confortável manto do populismo e vender a ilusão de que o país suporta indefinidamente o saque sem fundos no sistema previdenciário. Infelizmente, trata-se de uma irresponsabilidade que poderá custar caro para a população que depende da Previdência pública.
O atual governo tem razão em dizer que pouco ou nada se beneficiaria da melhoria das contas públicas associada à reforma moribunda, mas é sintomático que todos os presidentes desde o Plano Real tenham defendido alguma mudança profunda na Previdência uma vez instalados no Planalto. No próximo mandato não será diferente. Por isso, o eleitor deve ficar alerta para os discursos simplistas de candidatos ao Executivo e ao Congresso que passam a ideia de um Estado como ente infinito, capaz de conceder todo tipo de benesse. Não pode. Dizer a verdade, enfrentar contrariedades e apontar soluções factíveis e realistas deveria ser o primeiro compromisso de quem pretende representar os eleitores. O país não mudará pela mão e voz dos populistas, que no fundo são os conservadores com interesse em preservar o insustentável como está.