Primeira crise migratória de proporções enfrentada pelo Brasil, a questão dos exilados venezuelanos é um desafio diante do qual o país não tem o direito de errar. O drama dos milhares de venezuelanos que têm cruzado a fronteira da Colômbia e a do Brasil, fugindo do caos econômico e social enfrentado em seu país, já é comparável ao registrado em países europeus. No Brasil, que em 2015 precisou enfrentar a entrada de haitianos no Acre, o fenômeno assume características de crise humanitária. O Palácio do Planalto promete dar atenção efetiva ao tema a partir desta semana, com a criação de uma força-tarefa.
É inevitável que, diante da situação de crise enfrentada no próprio Brasil, os venezuelanos expulsos no país pelos desacertos do regime chavista de Nicolás Maduro sejam vistos no mínimo com ressalvas pela população fronteiriça. No lado brasileiro, porém, a situação não tem mais como continuar sendo suportada apenas por um Estado. O impacto na infraestrutura social de Roraima exige uma resposta efetiva em âmbito federal.
O Brasil, também em dificuldades, não tem como ignorar o fenômeno do êxodo venezuelano, que transborda para suas fronteiras. É importante, porém, que se preocupe em zelar por um ordenamento mínimo na entrada, para evitar descontrole. Eventuais políticas a serem implantadas a partir de agora não podem servir de estímulo para atrair ainda mais refugiados.
Simultaneamente, o Planalto precisa agir para que a própria Venezuela encontre formas de enfrentar seu caos interno. O país vizinho encontra-se mergulhado hoje numa perversa combinação de caos econômico e social, incluindo desabastecimento de itens essenciais e uma hiperinflação sem perspectiva de controle. A situação da Venezuela serve também como um triste alerta sobre o que pode ocorrer quando um governante adota os piores vícios da política, com ênfase no populismo demagógico, para se perpetuar no poder, favorecendo a si mesmo e a aliados.