As falhas nas unidades do Minha Casa Minha Vida no Rio Grande do Sul expõem uma nova face de um velho problema. Não há dúvidas sobre a necessidade de resolver o déficit habitacional do país, mas a pressa e a falta de cuidado na execução de muitos dos projetos penalizam famílias carentes que deveriam se beneficiar dos pesados investimentos governamentais.
Mais uma vez, fica a sensação de que o calendário eleitoral é o verdadeiro engenheiro de prédios que, pouco depois da inauguração, já apresentavam rachaduras, vazamentos e desgastes prematuros de equipamentos e de materiais.
É elogiável, também nesse caso, a atuação da Controladoria-Geral da União, órgão responsável pelas auditorias que apontaram as más condições de edifícios integrantes do maior programa habitacional da história brasileira. Olhando para os números, fica ainda mais claro o abismo entre a promessa e a entrega: na média, mais da metade dos apartamentos vistoriados no país tinha falhas estruturais ou inconsistências entre o projeto e a execução.
Mesmo que algumas das construtoras tenham tentado resolver os problemas, isso é pouco diante da real necessidade de, por um lado, fiscalizar com absoluto rigor a eficiência de investimentos públicos e, por outro, apontar os responsáveis pela falta de zelo que impõe transtornos às camadas mais pobres da população.
Também a revenda e o aluguel de apartamentos do Minha Casa Minha Vida acendem um sinal vermelho. É fundamental garantir que esses imóveis sejam efetivamente entregues a quem precisa e não a apadrinhados políticos ou cabos eleitorais, que mais tarde usarão benefícios subsidiados para auferir rendas oriundas de locações ilegais.
Não se trata aqui de demonizar um programa que reduziu a carência de moradia dos brasileiros, mas sim de identificar desvios, maus usos e desleixos que podem comprometer a credibilidade da iniciativa. O fato de a maior parte dos moradores de unidades construídas pelo governo estar satisfeita é um bom sinal. Mesmo assim, esse fato não isenta agentes públicos e privados de cobranças por mais eficiência e controle na gestão dos bilhões de reais destinados ao projeto.