A relação do homem com os animais é ancestral e no Rio Grande do Sul adquire contornos diferenciados, pela forte identificação do gaúcho com o campo e suas respectivas lidas. A figura do homem rural no lombo de um cavalo, pastoreando gado ou ovelhas, e na companhia de seu "cusco", ocupa o imaginário popular e carrega em si forte valor simbólico. Mas não só: essa imagem retrata fielmente a realidade das gerações que nos antecederam e também de atuais. É exatamente assim em muitos recantos do nosso Estado.
A figura do homem rural no lombo de um cavalo ocupa o imaginário popular.
Por esta razão, o Movimento Tradicionalista Gaúcho não considera esporte as práticas de laço, gineteada, chasque e de rédeas, tão comuns por estes pagos, mas sim uma manifestação cultural. O peão não laça para se divertir, mas porque é seu trabalho no campo, preservando o jeito herdado dos pais, dos avós, e contribuindo assim para a conservação da memória de nossos usos e costumes, não somente nos livros de história, mas também de maneira vivencial, no dia a dia.
Cabe, evidentemente, todo um cuidado e olhar especiais quando colocamos em pauta a realização de rodeios, que são eventos demonstrativos dessas práticas para públicos muitas vezes essencialmente urbanos. Estes eventos estão consolidados no Rio Grande do Sul, com forte argumento econômico e turístico – argumentos, porém, que em hipótese alguma podem estar acima das garantias de bem-estar animal.
Nesse sentido, há alguns anos, juntamente com o Ministério Público e com o Conselho Regional de Veterinária, o MTG auxiliou na elaboração de um documento com diretrizes para o bem-estar animal para antes, durante e após a realização de cada evento. A cartilha elenca o que pode, o que não pode, também as penalidades para quem não cumprir as determinações e apresenta as considerações de entidades protetoras dos animais.
Alguns exemplos de determinações:
– O transporte dos animais deverá ser realizado em veículos apropriados e as instalações do local devem garantir a integridade física deles durante sua chegada, acomodação e alimentação;
– A encilha e demais peças utilizadas nas montarias, bem como as características do arreamento, não poderão causar injúrias ou ferimentos aos animais;
– As cintas, as cilhas e as barrigueiras deverão ser confeccionadas em lã natural ou em couro, com dimensões adequadas para garantir o conforto dos animais;
– Os laços utilizados deverão ser confeccionados em couro trançado, sendo proibido o ato de soquear o animal laçado;
– É proibido o uso de esporas com rosetas pontiagudas, nazarenas, ou qualquer outro instrumento que cause ferimento nos animais, incluindo aparelhos que provoquem choques elétricos;
– Os animais utilizados nos eventos/provas poderão dar no máximo 20 voltas o boi e 30 a novilha, respeitando o descanso de 30 minutos entre as voltas nos lotes de animais;
– A cancha deve ser de grama ou areia.
O Movimento Tradicionalista Gaúcho tem lutado arduamente para que os rodeios crioulos mantenham a autenticidade gaúcha, sem a incorporação de estrangeirismos ou do conceito de "esporte". O bem-estar animal e a preservação da nossa mais essencial cultura regional dependem de todos os segmentos da sociedade compreenderem que laço é cultura.