Jamais houve coisa igual no Brasil. Nem os impeachments de Collor ou Dilma exacerbaram tanto as paixões. Com o julgamento de Lula, está sendo diferente. Seu carisma, seu discurso populista e a mística de que governou para os pobres seduziram um eleitorado cativo, que não se conforma com a hipótese da sua prisão.
Daí que as maiores lideranças da esquerda se mobilizam, como José Dirceu e João Pedro Stédile. Entre ameaças, conclamam os aficionados para a vigília do dia 24. Dirceu, por estar em prisão domiciliar, poderá sofrer regressão ao regime fechado, caso o Judiciário entenda que suas manifestações incitam a desordem.
No mensalão, Lula escapou. Agora, tenta negar os presentes que não poderia ter recebido.
Por respeito aos três desembargadores da 8ª Turma do TRF4, é inconveniente opinar sobre seus votos, a não ser reconhecer que os três são alvos de fortes pressões e intimidações. Mas, certamente estão protegidos. A cidade é que corre grandes riscos. Extremistas e fanáticos nesta hora não faltam, o que dá razão ao receio do prefeito Marchezan.
Os votos dos magistrados estão prontos. Ao contrário de antigamente, agora os julgadores das turmas podem compartilhar entre eles o que cada um vai decidir. Relator e revisor conhecem a fundo o processo e avaliaram a sentença que veio de Sergio Moro. O terceiro voto é que poderá surpreender com um eventual pedido de vista, até para aliviar as tensões do momento.
Tenho particular expectativa sobre a hipótese de invocação no julgamento da inovadora "teoria da cegueira deliberada", muito usada nos direitos inglês e americano, que o TRF vem adotando subsidiariamente como prova. Nela, desconsidera-se a alegação do agente quando diz que não viu evidente ilícito, deliberadamente fazendo que não percebia o que tinha obrigação de enxergar e dever de combater. Também é chamada "teoria das instruções do avestruz".
No mensalão, Lula escapou. Agora, tenta negar os presentes que não poderia ter recebido, como o apartamento do Guarujá e o sítio de Atibaia, concessões generosas da OAS. Na primeira instância, não conseguiu convencer, será que o fará agora? Porto Alegre viverá dias de tensões e atenções. Tomara que sem violências, mas com respeito à Justiça e à democracia.