Passei a semana passada aprendendo e debatendo sobre o futuro em um curso chamado Friends of Tomorrow, ministrado pela Perestroika, com conteúdo elaborado pela Aerolito, empresa do meu amigo Tiago Mattos, professor da Singularity University e integrante do Trans-disciplinary Innovation Program, em Israel. O cardápio de assuntos era saboroso e apimentado: nanotecnologia, robótica, inteligência artificial, reprogramação genética, realidade aumentada, engenharia reversa de moléculas, aceleração exponencial e outros temas que, dependendo do ponto de vista e do interlocutor, irão mudar, ou já estão mudando, o mundo e a vida. A transformação pela frente é inexorável.
Pois, nem bem o curso acabou e já despenquei na nossa realidade pré-histórica. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) acaba de ser divulgada, revelando um país de contrastes cada vez maiores. Por um lado, 92% dos lares brasileiros já têm celular. Por outro, apenas 66% das casas têm esgoto. E em 3,5 milhões delas só existe água em, no máximo, três dias por semana. É claro que a conectividade é importante, ainda mais quando se projeta que a maioria dos serviços públicos deve ser digitalizada.
Mas, como pode um país sonhar com o futuro quando ainda tem quase metade de suas famílias sem esgoto? Claro que melhoramos, e é óbvio que a defasagem é histórica. Mas, neste ritmo, nunca chegaremos lá. E, para piorar, nossa mentalidade ainda é do século passado em muitos aspectos e setores. Veja a recente Black Friday, e ponha black nisso: metade dos produtos ofertados tinha promoção falsa, segundo pesquisa feita pelo jornal Folha de S. Paulo. De 719 itens pesquisados, 347 estavam mais baratos ou tinham o mesmo preço 22 dias antes da data promocional. E depois os empresários dizem que basta simplesmente o Estado ser gerido igual a uma empresa que vai ficar tudo bem. Não basta, porque a questão é, também, quem gere e não apenas como gere. E tem ainda a qualidade da educação, que piorou na última década, ou o descaso com ciência e tecnologia, que só aumentou.
Enquanto o mundo caminha em busca de uma nova matriz energética, valoriza o intangível das novas economias e reorienta o valor da aprendizagem para o futuro, nós estamos na Idade da Pedra, com um país sem senso de propósito, sem missão coletiva e, muito menos, sem visão daquilo que pretende ser no mundo.
O Brasil não é mais o país do futuro. Quem dera, em 2018, consigamos ser ao menos friends of present.