*Sócio-diretor de criação da Morya
Eu não sei vocês, mas tudo que eu estou sabendo no momento é que eu não sei. Olho pro Brasil e pro mundo e não sei um monte de coisas. Ao contrário de mim, a maioria parece que sabe tudo. Basta abrir um jornal, um site ou uma rede social e aparecem os donos da verdade, cuspindo regra, moral, conselho ou xingamento. É a prova de um fenômeno: o Brasil tem uma enorme dificuldade de pensar. Vamos nos apequenando na discussão do dia a dia, da superfície, da espuma, da subnotícia, do subprotesto ou da subcelebridade.
Com a maior tranquilidade viramos autoridade em moralidade, liberdade, censura ou sobre o que é ou não é arte, seu papel e sua função. E assim vamos assistindo, de um lado, ao crescimento da intolerância, e de outro, a uma derrota da relevância. Gostamos é de reclamar e de ampliar a reclamação. Difícil, mesmo, é a troca de ideias, que pressupõe duas coisas: uma ideia a ser trocada e ouvir com disposição de trocá-la. E ambas estão escassas numa sociedade cada vez mais sectária e bélica em suas posições ideológicas, religiosas, sociais e até culturais.
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Ideias, e não políticos, é que deveriam ser as grandes protagonistas da vida pública de um país. É preciso se perguntar que Estado queremos daqui a 20, 30, 50, cem anos, e se debater uma exposição do jeito que discutimos nos levará até lá. Se olharmos o momento, há vários temas relevantes e com potencial transformador em pauta no Brasil e no Rio Grande do Sul. Estão sendo debatidos com a seriedade, profundidade, o conteúdo e senso de coletividade que merecem? Estamos colocando neles o mesmo esforço de tempo e foco, e a mesma paixão e emoção com que discutimos a exposição do Santander?
Estamos discutindo grandes questões, olhando pra frente, para onde queremos ir, com uma visão de Estado que tenha fôlego para enfrentar os desafios do futuro em um mundo que se transforma exponencialmente? Ou estamos apenas vendo quem grita mais alto sobre qualquer coisa que gere mais gritaria? No livro A cultura do crescimento, Joel Mokyr demonstra claramente que quase tudo que cresceu na economia mundial nos últimos 300 anos foi consequência de como as pessoas passaram a pensar. É o conjunto de crenças, referências e valores culturais de uma região ou grupo de pessoas que molda o ritmo, o jeito e a direção do crescimento. Como estamos pensando aqui no Rio Grande do Sul?