Celebrando-se o novo investimento da General Motors em Gravataí, no valor de R$ 1,4 bilhão, é interessante relembrar sua origem e lógica, cuja atração para o Rio Grande do Sul já remonta há 20 anos. Tendo feito parte da equipe que elaborou desde a primeira carta até o contrato final, é interessante lembrar um conjunto de conceitos e aprendizados necessários.
O ano de 1995 era o primeiro após o Plano Real, quando definitivamente foi quebrado o ciclo de hiperinflação e passou-se a acreditar que o Brasil iria desenvolver-se. Naquele momento, diversos ciclos de investimento foram deflagrados, entre eles a ampliação e modernização da indústria automobilística nacional.
Muitos lembram quando o ex-presidente Collor chamou nossos automóveis de "carroças", o que era verdadeiro e refletia exatamente uma indústria atrasada. Aquele momento positivo fez com que tivéssemos um boom de novas plantas e fosse iniciado um processo de descentralização da produção, então concentrada em São Paulo, com a exceção da Fiat, que nos anos 1970 se localizara em Minas Gerais.
Na ocasião, novos players chegaram, somando-se aos existentes, que também investiram, havendo agora fábricas de automóveis relevantes em Estados como Paraná, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Goiás.
Saliente-se que complexos automotivos e seus veículos têm ciclos de validade; processos produtivos se tornam obsoletos, bem como os carros; a fábrica inicial da GM em Gravataí, destinada à produção do Celta, não teria condições de produzir o Ônix e nem a nova família de veículos anunciada, sem novos investimentos. A capacidade inicial de 120 mil veículos por ano agora se aproxima de 400 mil. Certamente, dentro de mais alguns, anos teremos uma nova negociação entre a empresa e o Estado para nova etapa de modernização da planta anunciada; será viabilizar o novo ciclo ou condenar o empreendimento em função de uma defasagem esperada.
Voltando à negociação que trouxe a GM para o Estado, o então governador Antônio Britto priorizara a atração de montadoras de automóveis visando aproveitar a oportunidade daquele ciclo de investimentos e sua forte capacidade disruptiva e com condições de proporcionar, no tempo, um acréscimo no PIB estadual e modernizar a matriz econômica. O resultado e seus efeitos o tornaram indiscutíveis.
No ano de 1995, a principal negociação foi com a Renault, que acabou por se decidir pelo Paraná para, segundo a empresa, ficar mais próxima do mercado, mas bem se viu depois, também atraída por um pacote de incentivos muito mais agressivo. Foi um excelente aprendizado para o sucesso das negociações posteriores.
Voltarei ao assunto nas próximas colunas.