Estamos já bem acostumados em ouvir sobre a desonestidade que vem permeando as relações entre parte do poder público e da classe empresarial, onde parece que o país chegou a um limite, após os episódios do mensalão, petrolão e Lava-Jato, que escancararam um conjunto promíscuo de relações e interesses públicos e privados e levaram ao enriquecimento ilícito de grandes empresas, partidos políticos e políticos envolvidos, todos aproveitando um Estado em expansão. Certamente, nunca saberemos efetivamente o quanto foi subtraído da sociedade, mesmo que já tenhamos chegado a condenações, até então impensáveis, de grandes empresários a políticos que comandaram o Brasil, incluindo uma inédita e constrangedora condenação de um ex-presidente.
Por outro lado, há uma desonestidade ainda maior e mais custosa à sociedade, que é a desonestidade intelectual, quando aqueles que decidem os destinos do país o fazem não necessariamente da melhor forma, mas, talvez por desconhecimento ou ideologia, ou mesmo para atender seus interesses privados, acabam conduzindo a coisa pública de forma equivocada, levando a consequências por vezes desastrosas. As gestões Lula-Dilma, acreditando em suas ideias, conduziram nossa economia a uma aventura fiscal desastrosa, onde a perda do controle do gasto nos levou à recessão, ao desemprego e à quebra de empresas. A perda gerada no conjunto da economia é certamente muito superior ao somatório do que foi desviado nos escândalos referidos.
Como a atual crise econômica só se resolve após o reequilíbrio das contas públicas, chama a atenção a dificuldade que parte daqueles que devem decidir, leia-se Legislativo, tem, por vezes, em entender a aritmética básica. A discussão sobre a reforma da Previdência demonstra isso bem; como ela é deficitária, a não resolução dos bilionários desequilíbrios das Previdências oficiais e dos funcionários públicos vai agravar no tempo a questão fiscal e, portanto, a estabilidade econômica, entenda-se a volta da inflação e da elevação dos juros.
É do jogo democrático que partes interessadas, como sindicatos, por exemplo, se posicionem contrariamente a mudanças. O inaceitável é que parte da classe política não tenha compromisso com o racional econômico ou não o entenda. O sistema previdenciário brasileiro, já comentado neste espaço, por ser de repartição simples, se torna inviável no tempo e não acumula reservas.
A votação de uma reforma previdenciária, mesmo esquartejada como parece ser a possível, representa uma encruzilhada entre um longo caminho para o reequilíbrio fiscal ou para o agravamento e a perpetuação da situação, com consequências definitivas para o crescimento econômico estável de longo prazo.
No Brasil, o Legislativo deve aprovar as leis. Não compreender a gravidade da situação e, votar olhando principalmente para interesses eleitorais individuais, é uma forma bem acabada de desonestidade intelectual.