O editorial de Zero Hora de 21/04/2017, alusivo à assertiva do comandante do Exército a respeito dos perigos que a aversão ao exercício legítimo da autoridade acarreta, merece algumas considerações.
Inicialmente, deve-se ter presente que o desmando no Brasil hoje é de tamanha ordem, que subverteu completamente a ideia de democracia, confundindo o sagrado conceito em questão com anarquia.
Para muitos, desde o fim do regime militar, toda e qualquer restrição ao "direito de manifestação", mesmo que abusivo, configuraria arbítrio. Esse, aliás, é um problema recorrente na sociedade latino-americana, que enfrenta imensa dificuldade em superar períodos autoritários, em direção à regularidade institucional, convergindo, via de regra, para episódios de extremo populismo e demagogia.
Nesse quadro, florescem abusos de minorias, geralmente amparadas por partidos políticos, que sem qualquer pudor e de forma totalmente nociva, querem impor os seus interesses, ainda que por meio da truculência, suplantando as necessidades da coletividade, notadamente ao ocupar prédios públicos, interromper rodovias, realizar greves abusivas, impedir votações no legislativo com o uso da força etc. Somam-se a isso a criminalidade desenfreada, a corrupção generalizada e os malefícios desencadeados pela impensável greve dos policiais militares do Espírito Santo.
Dessa situação esdrúxula, e de forma eleitoreira, brotam assertivas equivocadas do tipo "não se pode utilizar a polícia para confrontar os movimentos sociais". Tal alegação é totalmente falaciosa, uma vez que a atuação desses agrupamentos só se justifica quando for ordeira e observar tanto a lei quanto o direito de terceiros. Fora disso, tudo não passa de arruaça, abuso e ilegalidade, passível de pronta e enérgica resposta da administração.
Até porque, tal concepção, completamente equivocada, corrói irreversivelmente o princípio da autoridade do Estado, concebido em benefício de todos, do qual provém tanto a noção de segurança pública quanto a ideia de desenvolvimento. Nesse quadro, só resta esperar que amparados em ditames constitucionais, os gestores públicos, sempre que necessário e sem o emprego abusivo da força, atuem prontamente na superação desses entraves, no intuito de resguardar o correto sentido da noção de democracia.