O presidente Michel Temer e o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, apressam-se em desmentir o ex-advogado-geral da União Fábio Medina Osório, que saiu do cargo afirmando que o governo tenta defender aliados políticos investigados pela Operação Lava-Jato. Ambos garantem que o Ministério Público Federal e o Judiciário agem com total independência e que a Polícia Federal, embora subordinada ao Executivo, também mantém plena autonomia para fazer o seu trabalho. "Seria um absurdo qualquer interferência do governo na Lava-Jato", assegurou Temer, enquanto o ministro Padilha sugeriu que seu ex-companheiro de governo responsável pela denúncia está tentando captar "um pouquinho de luz" dos holofotes da operação.
Não há por que duvidar da palavra dos atuais governantes. Mas muitos brasileiros já começam a demonstrar impaciência em relação ao tratamento dispensado ao chamado núcleo político da Lava-Jato, que até agora permanece impune devido à prerrogativa de foro que remete a investigação para o Supremo Tribunal Federal. É impensável, realmente, que o Executivo tente interferir em decisões da Corte Suprema.
O que se espera, passado o episódio do impeachment e a troca de comando no próprio Supremo com a posse da ministra Cármen Lúcia, ontem, é um pouco mais de agilidade da Corte, para que os parlamentares e governantes beneficiários de propina também sejam chamados pela Justiça para explicar seus atos, da mesma forma como empresários, servidores públicos e civis tiveram que fazê-lo – muitos deles sob a pressão da prisão preventiva.
A Lava-Jato é mais importante do que eventuais ocupantes do poder. E todos os suspeitos têm que ser investigados, independentemente de terem ocupado ou de estarem ocupando cargos no governo.