O Senado da República será palco nesta segunda-feira de uma inédita aula de História da jovem democracia brasileira, que tanto pode ser edificante – se os personagens de ambos os lados se comportarem como lideranças políticas dignas – quanto constrangedora – se o debate degenerar para o ódio e a baixaria. Na sessão programada para começar às 9 horas, sob o comando do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, a presidente afastada Dilma Rousseff se defenderá pessoalmente das acusações de ter praticado crime de responsabilidade e será sabatinada por senadores – a maioria já com convicção formada pelo impeachment da mandatária. É a segunda vez que um presidente brasileiro enfrenta um processo de impedimento, com a ameaça concreta de ter seu mandato interrompido de acordo com a Constituição. O julgamento político pode interromper, também, uma hegemonia de mais de 13 anos do Partido dos Trabalhadores no poder.
O país espera de seus homens públicos bem mais do que o espetáculo de confrontação ideológica que se desenha a partir da convocação de figuras ilustres da esquerda para acompanhar a presidente e da reunião prévia de grupos de senadores que fazem oposição ao PT, para combinar a estratégia de ataque. Talvez pareça ingenuidade esperar um debate responsável de políticos que parecem se importar apenas com seus próprios interesses pessoais e partidários, mas esse processo de impeachment já vem causando demasiado sofrimento ao país. Tudo o que se pode desejar hoje é que a transparência prevaleça e que tantos os acusadores quanto a acusada tenham oportunidade para expor seus argumentos com liberdade e clareza.
O amplo direito de defesa da presidente legitima o julgamento, ainda que ela própria e lideranças de seu partido venham insistindo na tese do golpe. A solidez da democracia brasileira comporta também esse tipo discurso, mas o que realmente interessa ao país é virar logo esta página, fortalecer suas instituições e superar a crise e a desconfiança no futuro.