Encerram-se neste domingo os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, os primeiros realizados na América do Sul, desafio imenso para um país que atravessa a maior crise político-econômica de sua história. Para promover uma competição de 17 dias, que reuniu 10 mil atletas de 205 países, a capital fluminense recebeu aporte de recursos federais para custear a infraestrutura e a segurança do grande evento. Havia muita preocupação internacional – e local também – com a violência e com a possibilidade de algum atentado. Nada disso ocorreu, pelo menos até a antevéspera do encerramento. Todos os incidentes registrados, entre os quais o acidente de trânsito fatal com o treinador alemão, a queda de uma câmera sobre torcedores e o falso assalto dos nadadores norte-americanos, foram considerados normais ou pelo menos aceitáveis para uma concentração tão grande de pessoas. Não tiraram o brilho e o reconhecimento de uma Olimpíada organizada com eficiência e bom gosto.
O respeitado jornal norte-americano New York Times publicou um artigo na última segunda-feira confrontando o negativismo de observadores internacionais com a realidade brasileira. "O mundo desenvolvido não gosta que países em desenvolvimento organizem um grande evento esportivo", observou o articulista, para concluir: "Estou cansado, muito cansado, de ler histórias negativas sobre estes Jogos Olímpicos brasileiros: a raiva nas favelas, a violência relacionada com as drogas, o abismo permanente entre ricos e pobres, as dificuldades organizacionais ocasionais, o doping russo, o mosquito brasileiro, o dinheiro que supostamente poderia ter sido gasto melhor do que na ampliação do metrô que agora vai do centro para a Barra da Tijuca". Em seguida, o redator norte-americano destaca a bela cerimônia de abertura e diz que os Jogos foram bons para o Brasil e bons para a humanidade. "O Brasil tem uma poderosa e alegre cultura nacional. É a terra do 'tudo bem'".
Seria ainda melhor, evidentemente, se o Brasil pudesse estender o clima de segurança, camaradagem e prosperidade da cidade olímpica para outras áreas do país, especialmente para as regiões castigadas pela criminalidade e pela carência de serviços básicos. Infelizmente, ainda estamos longe de conquistar essa medalha de ouro da excelência. Mas não estamos impedidos de persegui-la com a mesma tenacidade empregada por alguns de nossos desacreditados atletas que surpreenderam o mundo e os próprios brasileiros.