A pouco mais de uma semana de seu possível afastamento temporário do cargo, na hipótese de se confirmar a tendência observada hoje pela abertura do processo de impeachment no Senado, a presidente Dilma Rousseff aproveitou as comemorações do 1º de Maio para acenar com vantagens tanto para brasileiros de menor renda quanto para os de classe média. Em ato em São Paulo, organizado por centrais sindicais e movimentos sociais, a presidente confirmou aumento de 9% nos valores do Bolsa Família para 2016 e de 5% nas tabelas do Imposto de Renda de pessoas físicas a partir de 2017. São medidas que, embora o Planalto negue, tendem a agravar as já deterioradas contas públicas, podendo comprometer ainda mais o atual governo ou o que vier a sucedê-lo.
Por mais que estivessem sendo esperadas e devam ser consideradas justas, providências como as confirmadas no Dia do Trabalho não podem servir como tentativa de deixar em segundo plano uma questão central para o país, que é o desemprego elevado. No total, há hoje 11,1 milhões de pessoas procurando uma ocupação. No período de apenas três meses, nada menos que 2 milhões de brasileiros passaram para a condição de desempregados. E, em boa parte, o que contribuiu para esse quadro de desalento para as famílias foi justamente a desorganização das finanças públicas.
No primeiro trimestre, o déficit nas contas do governo central atingiu R$ 18,2 bilhões. Essa fragilidade nos números oficiais desestimula os investimentos do setor privado e potencializa os riscos de "pacotes de bondades", que segmentos da oposição preferem denunciar como medidas de desespero. Num momento político delicado como o que o país enfrenta, não pode haver qualquer espaço para decisões populistas que ponham em risco a seriedade fiscal. O recado vale para o atual ou para um eventual próximo governo.