Tem significado histórico a anunciada viagem do presidente norte-americano Barack Obama a Cuba no próximo mês. A visita, confirmada pouco mais de um ano depois do anúncio da normalização das relações entre os dois países, chancela a distensão gradual entre os Estados Unidos e o país caribenho, que foi o foco da maior ameaça à paz mundial durante a crise dos mísseis dos anos 1960. Nunca, como naquela ocasião, o mundo esteve tão próximo de uma guerra nuclear, tensão que hoje cede espaço ao diálogo, com chances concretas de evoluir para a conquista de uma compreensível aspiração dos cubanos: o levantamento do embargo econômico.
Isolada a ponto de não ter recebido a visita de um presidente norte-americano em quase 90 anos, Cuba ainda arca com o custo da opção por um intervencionismo radical e pela falta de liberdades imposta à população. No mesmo anúncio da visita, Barack Obama chamou a atenção para aspectos como o de a bandeira de seu país ter voltado a tremular em Havana e o de mais norte-americanos estarem hoje viajando para o país vizinho, mas não deixou de apontar as diferenças. Uma delas é o descaso crônico na ilha com direitos humanos essenciais.
O outro entrave significativo aos avanços no diálogo entre Washington e Havana, este no âmbito comercial, é a dificuldade imposta pelo apego à burocracia, comum na maioria dos países latino-americanos. É significativo que, depois de Cuba, o presidente norte-americano deva seguir para Buenos Aires. Sob novo governo, a Argentina empreende hoje um esforço justamente para se livrar de ranços do passado e, com isso, tirar proveito desse gesto de reaproximação por parte dos Estados Unidos.