É sabido que o Brasil é um país de contrastes. E a maneira como lidamos com a produção de alimentos é mais um exemplo nesse sentido. Temos um dos lixos mais ricos do planeta. E isso num país onde vivem milhares de desnutridos.
Do campo até a mesa do consumidor, o país coloca fora 30% do que produz. O consumidor, por sua vez, desperdiça outros 20% de todo alimento que leva para casa.
Vamos nos concentrar neste desperdício, já que os 30% perdidos têm causas bastante conhecidas, que vão de colheita e armazenamento inadequados até péssima conservação de estradas por onde a produção é escoada.
Falemos do desperdício feito em casa. Você já imaginou que a banana pode ser consumida toda? Com a sua casca é possível preparar bolos, pudins e outras receitas deliciosas. As ramas de hortifrútis, como cenouras e rabanetes, podem servir de ingredientes para suflês e guisados com carne. Os talos de frutas e verduras, que normalmente vão para o lixo, podem ser transformados em sucos e doces.
Para combater essa cultura do desperdício, o poder público não pode ser responsabilizado sozinho. Os porto-alegrenses deram um exemplo de resiliência no desastre climático que abateu a cidade recentemente. A população foi às ruas para ajudar os serviços públicos, que, sozinhos, não tinham condições de combater a tragédia que causou destruição nunca vista. Ou seja, unidos somos capazes de atenuar os problemas pertinentes das grandes cidades.
Uma lei aprovada há mais de uma década pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre é um bom exemplo de como o poder público poderia contribuir. Ela previa que os restaurantes da cidade poderiam doar seus excedentes para creches do município. Hoje não o fazem por medo de serem penalizados pela vigilância sanitária. O projeto, inclusive, foi sancionado pelo Executivo, mas sem regulamentação "adormece" na Câmara Municipal até hoje. Quantas crianças poderiam ser beneficiadas? Falta apenas algum vereador retomar o projeto.