Dezenas de prefeitos brasileiros decidiram suspender o Carnaval oficial em seus municípios sob a alegação de falta de recursos em decorrência da crise econômica e da queda de arrecadação. A maioria afirma que vai direcionar o pouco dinheiro existente no caixa de seus municípios para investimentos públicos de maior prioridade, como infraestrutura rodoviária, assistência à saúde e transporte escolar. Tal decisão, porém, vem recebendo críticas de setores que as interpretam como desconsideração com a cultura e com a camada da população mais entusiasta por festas populares.
Compreende-se a reação dos carnavalescos, mas não há como condenar a atitude dos administradores públicos diante da calamitosa situação financeira de Estados e municípios. É muito fácil fazer demagogia com o dinheiro dos contribuintes. Um governante responsável, porém, não pode se submeter a pressões setorizadas. Tem que pensar no todo.
Apesar do desgaste político junto à comunidade cultural, agem corretamente os prefeitos que cortam gastos com a folia para aplicar os recursos em saúde, educação e transporte público. É importante ressaltar que nenhum deles está proibindo a festa. Alguns, inclusive, estimulam as entidades carnavalescas a buscar parcerias com empresas privadas, a fim de viabilizar os desfiles.
Ninguém ignora a importância do Carnaval como manifestação popular e até mesmo como atrativo turístico para algumas localidades. Mas cabe ao gestor público avaliar a melhor destinação para os recursos arrecadados de todos contribuintes, sabendo que sua escolha, cedo ou tarde, será também submetida ao julgamento dos cidadãos.
O sensato - e essa tem sido a recomendação de órgãos fiscalizadores como o Tribunal de Contas e o Ministério Público - é dar prioridade aos serviços básicos e ao pagamento dos servidores, para só então pensar no Carnaval. A crise econômica atingiu tamanha dimensão que os governantes estão sendo obrigados a alterar o ensinamento clássico do poeta Juvenal aos imperadores romanos: em vez de oferecer pão e circo à população, têm que optar entre um e outro.
Resta o consolo de saber que haverá outros carnavais e que as crises econômicas, por mais cruéis e persistentes que sejam, não duram para sempre.