Como se não bastassem os danos provocados pela corrupção, a Petrobras se vê às voltas com a séria crise do petróleo, cuja face mais visível é a forte queda registrada nos preços internacionais nos últimos meses, num movimento oposto ao enfrentado pelos brasileiros no mercado interno, pois vêm pagando mais pelos derivados. Em consequência, com esse e outros fatores combinados, os investimentos no setor se desaceleram e a estatal se viu forçada a cortar US$ 32 bilhões de seu orçamento para os próximos anos, além de estudar a venda de participação em outras empresas do setor.
São razões fortes que, somadas ao compromisso assumido em Paris de uma redução consistente nas emissões de gases provenientes de combustíveis fósseis, vão exigir mais da gestão da empresa. Mas é errada a tentativa de atribuir apenas a fatores externos as ameaças que rondam a Petrobras. A empresa poderia estar melhor preparada para enfrentar a conjuntura internacional, que combina preços baixos do petróleo, desaceleração das economias e ascensão de energias alternativas, se não tivesse cometido tantos erros nos últimos anos. E se, ao lado das falhas de administração, não fosse vítima também da ação organizada de grupos que saquearam a estatal.
A Petrobras endividada, sem capacidade de investir, descapitalizada financeira e moralmente, não estaria aonde chegou se não tivesse sido loteada entre partidos aliados do governo, sem quaisquer critérios técnicos. A Operação Lava-Jato, que identifica esses desmandos, ajuda a explicar o que ocorreu na maior empresa nacional, que perdeu valor como patrimônio de todos os brasileiros e depreciou os ganhos de acionistas que nela acreditavam, muitos dos quais pequenos poupadores. Recuperar a Petrobras é um desafio que o governo, seu controlador, deve ter como missão prioritária, para que os efeitos da corrupção e da conjuntura internacional desfavorável sejam pelo menos amenizados.