É verdadeiramente assustador que o candidato preferido dos eleitores republicanos nos Estados Unidos tenha proposto seriamente proibir a entrada de muçulmanos no país - responsabilizando a religião e a origem dos cidadãos pelo radicalismo dos terroristas. Como bem disse a candidata democrata Hillary Clinton, Donald Trump deixou de ser engraçado. Seu ponto de vista guarda terrível semelhança com a filosofia nazista, responsável pelo extermínio de milhões de pessoas que pensavam e tinham crenças diferentes das de Hitler. Os norte-americanos não podem deixar o ovo da serpente chocar novamente.
A insistência numa retórica enganosa, por meio da qual o político especializado em vendas ousa até mesmo se comparar a Franklin Delano Roosevelt, com base em sua atuação durante a II Guerra Mundial, desqualifica-o para o cargo e atenta contra a Constituição norte-americana. Um dos princípios da lei máxima dos Estados Unidos é justamente o da liberdade de culto. Atentar contra essa liberdade, com a divisão de potenciais eleitores por raça e fé, só contribui para ampliar os riscos do terrorismo, que não podem ser identificados a partir de generalizações grosseiras.
A estratégia de brincar com o medo, numa retórica enganosa, deve preocupar não apenas os defensores das liberdades nos Estados Unidos, mas todas as democracias. No caso norte-americano, esse tipo de alarmismo xenófobo, que já levou até mesmo à defesa de um muro na fronteira entre México e Estados Unidos, acirrou-se com os 14 mortos num ataque a tiros por um casal de muçulmanos na Califórnia. A prevalecer essa tese, não é difícil imaginar que acabará afetando outras democracias, não só a norte-americana.
A História já deixou claro que divisionismos, como os presenciados agora na campanha eleitoral norte-americana, só servem para acirrar a intolerância.