Está chegando ao final um ano deprimente para os brasileiros, que viram a maior empresa do país afundar num mar de lama e corrupção, viram a classe política abastardar-se na disputa pelo poder, viram a economia despencar ladeira abaixo com reflexos no emprego e no custo de vida. Mas o ano que termina também deixa a esperança de um país mais íntegro, a partir do verdadeiro golpe na impunidade histórica, representado pela atuação do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato.
A esperança tanto pode ser um bem quanto um mal. Como registrou o padre cantor Fábio de Melo em recente entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, o que faz sentido é a esperança operante. "Enquanto espero, faço" - simplificou. O recesso de Natal é uma boa oportunidade para cada brasileiro se perguntar o que pode fazer pelo país, em contraponto à cultura da apropriação do Estado que ainda predomina na vida nacional, representada nos estamentos do poder pela quantidade exagerada de ministérios, pelo número estratosférico de servidores, por privilégios da classe dirigente e por uma estrutura eleitoral que estimula partidos sem identidade nem pudor.
O Natal, para a cultura ocidental e para o cristianismo, rememora uma história de simplicidade, humildade e compromisso com o outro. Eis aí um ponto de partida para a virada que o Brasil precisa dar. Se cada cidadão fizer a sua parte com trabalho e integridade, a representação política também terá que melhorar. Os brasileiros podem utilizar os instrumentos da democracia para erradicar da vida pública governantes e políticos que traem a confiança dos eleitores e os próprios mandatos.
Talvez não possamos mudar o mundo, mas podemos mudar nossos comportamentos - e as mudanças individuais tendem a se multiplicar, criando uma cultura coletiva de protagonismo e participação. A responsabilidade pela falência do Estado paternalista talvez não seja apenas dos maus governantes e dos espertalhões que transformam o público em privado. Parte do problema se deve, também, aos cidadãos que se habituaram a depender do governo e das decisões políticas. Mais do que nunca, ganha atualidade no Brasil o histórico ensinamento do presidente norte-americano John Kennedy: "Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país".