Estamos vivendo um momento em que jovens brasileiros combatem o racismo e outros preconceitos nas redes sociais e em manifestações. As meninas não aceitam mais serem assediadas nas ruas e personalidades, como Maju e Taís Araújo, não se calam quando são agredidas na internet. Quando eu era jovem, dei os primeiros passos na luta a favor dos direitos da mulher. Hoje, aos 88 anos, achei que não sofreria mais tantos preconceitos. Enganei-me.
Gosto de assistir, aos domingos, ao programa do Faustão, mas me fere quando ele critica as sogras e os usuários de dentaduras. Alguns podem achar que isso é bobagem, que são só brincadeirinhas, mas não. Quando briguei para poder usar calças no plenário da Assembleia Legislativa - e não somente saia, como dizia o regulamento -, muitos também riram de mim. Quem não é atingido por atitudes discriminatórias tem dificuldade de enxergá-las.
Faustão vive ridicularizando as sogras. Isso não é preconceito? Não machuca uma boa parcela das telespectadoras? O que me chama atenção é que a mulher continua sendo o alvo da piada. Por que não são feitas brincadeiras com os sogros? Por que temos que continuar a aceitar que mulheres, no caso as sogras, sejam agredidas? São preconceitos que passam de geração para geração sem serem questionados.
Já em relação às dentaduras, homens e mulheres são atingidos. É que, nesse caso, a parcela da população que sofre é a dos idosos. No Brasil, hoje, 23 milhões de pessoas têm mais de 60 anos, o que corresponde a 12,5% da população. Com o envelhecimento, muitos precisam usar dentaduras. Ninguém escolhe perder os dentes. Fazer piadas com quem usa dentaduras é o mesmo que debochar de quem não tem uma perna, ou um braço.
Sou mulher, sou idosa, sou sogra e tenho prótese dentária. Sou desrespeitada diariamente por programas como o do Faustão - que também constantemente agridem os gordos. Acredito que milhares de pessoas devem se sentir como eu, mas ficam caladas, porque preconceitos como esses são tão naturalizados, que nem ocorre a essas pessoas que elas também têm o direito de protestar. O corpo envelhece, os filhos casam, os dentes vão embora, mas ainda temos voz e podemos gritar: "Exigimos respeito!".