O fim da hegemonia chavista, com a vitória da oposição numa Assembleia dominada pelo governo desde 1999, quando Hugo Chávez chegou ao poder, acena com a perspectiva de uma importante recomposição de forças políticas na Venezuela. O resultado do pleito parlamentar de domingo, que assegura maioria à oposição, mostra o êxito do reagrupamento de lideranças que vinham fracassando na tentativa de expor nas urnas as mazelas de um regime questionado interna e externamente. O governo passa a enfrentar a vigilância de setores que, via Legislativo, poderão encaminhar propostas de fortalecimento da democracia.
Uma das iniciativas já está acertada entre os integrantes da articulação Mesa da Unidade Democrática. Trata-se da tentativa de restabelecer os direitos de líderes encarcerados pelos mais variados pretextos, mas identificados, inclusive por observadores internacionais, como presos políticos. A Venezuela que se dispôs a enfrentar o autoritarismo dos herdeiros de Chávez precisa agora prestar contas aos que tentaram resistir, nesses anos todos, e foram calados pelos governistas. A anistia aos presos, a ser defendida no Legislativo, não pode ser vista, como observam os vencedores da eleição, como revanchismo, mas como tentativa de pacificação do país.
O dado positivo da eleição é que, contrariando algumas previsões, o presidente Nicolás Maduro apressou-se em reconhecer que havia sido derrotado. O governante tem pelo menos mais quatro anos pela frente para tentar, agora sob pressão da oposição fortalecida, amenizar o sofrimento de uma população submetida a falta de alimentos, aumento de preços e estagnação. Os oposicionistas poderão contribuir para que se abra a perspectiva de mudança num país em que a ruína econômica e a perseguição a pretensos inimigos e à imprensa convivem com o desencanto com um modelo arruinado pelo próprio autoritarismo. O Brasil, como liderança na região, tem a obrigação de acompanhar de perto os movimentos em favor do resgate das liberdades na Venezuela.