A Câmara tem mais uma chance de contrariar as expectativas mais pessimistas e impedir que a escolha do relator do processo contra o deputado Eduardo Cunha, na Comissão de Ética da Câmara, represente um retrocesso. As especulações em torno dos nomes de prováveis escolhidos para a tarefa vem provocando debates preocupantes entre analistas do Congresso e os próprios políticos comprometidos com a lisura e a ética. Antes de sucumbir à ideia de que, em decorrência da escolha de um aliado de Cunha, a Comissão pode ficar sob suspeita, é preciso que a vigilância em torno do grupo de trabalho seja intensificada.
Cabe ao relator sintetizar os atos da Comissão, a partir do exame de fatos e de depoimentos, com o mais amplo direito de defesa. A situação de Eduardo Cunha é delicada, por envolver uma sucessão de fatos desabonadores. Há contra o líder da Casa um conjunto de indícios que o denunciam como portador de contas secretas na Suíça. Como as autoridades daquele país já informaram que os recursos estão em nome de Cunha e de familiares, o deputado terá de responder aos próprios colegas por que mentiu, em depoimento à CPI da Petrobras, em março, quando afirmou que não enviou dinheiro para o Exterior.
O processo contra o deputado, adiado por muito tempo, vem sendo esperado por todos que desejam a apuração imediata dos fatos denunciados. Se a sociedade acompanhar o julgamento de perto, para que o corporativismo não se sobreponha às evidências, o risco de impunidade poderá pelo menos ser reduzido. O parlamento está diante do desafio de oferecer transparência aos que desconfiam da sua capacidade de julgar seus próprios membros.