A notícia de que o belga Brian de Mulder estaria morto recebeu menos atenção ontem do que uma série de reportagens, em setembro do ano passado, sobre a existência de um "brasileiro no Estado Islâmico". Filho da brasileira Ozana Rodrigues, o jovem Brian obteve nas fileiras do grupo fundamentalista a notoriedade que não havia adquirido como aspirante a jogador profissional de futebol na Bélgica. Ao ser dispensado de um time local, ele teria se convertido ao Islã pela mão de Fouad Belkacem, hoje preso na Bélgica por atividades terroristas. Em 2013, Brian viajou à Síria e uniu-se ao EI, adotando a alcunha de Abu Qassem al-Brazili (literalmente, O Brasileiro Pai de Qassem, o que indicaria que teria tido um filho chamado Qassem).
Brasileira afirma que irmão que lutava com o Estado Islâmico morreu, diz jornal
Deve-se a Diogo Bercito, repórter do jornal Folha de S.Paulo, a notícia da morte de Brian, enviada por WhatsApp à família por Sara, com quem o jovem teria se casado na Síria. Ele teria sido ferido em Deir az-Zaur, no início de outubro, e o aviso de seu falecimento, repassado à família no final do mês. À Folha, a mãe de Brian, que havia apelado aos governos belga e brasileiro para trazer o filho de volta, disse preferir sabê-lo morto do que envolvido nos atentados de Paris. Sem querer, chama atenção para as semelhanças de perfil entre Brian e o grupo que executou os ataques. São, em sua maioria, jovens filhos de migrantes, que cresceram em ambientes pouco religiosos e abraçaram o Islã já adultos. Marginalizados, por vezes romperam com as famílias e cometeram pequenos crimes antes de bater à porta do EI.
Trata-se de um tipo muito diferente daquele dos sequestradores do 11 de Setembro, quase 15 anos atrás. A Al-Qaeda preferia recrutar na Europa e nos EUA indivíduos com instrução superior, sem ficha policial ou até mesmo com experiência militar em unidades de elite - gente que não levantaria suspeitas. Para o EI, que controla territórios e necessita menos de candidatos a James Bond e mais de soldados de infantaria, o terreno para conseguir adeptos não é a universidade, e sim os subúrbios.