Por Marta Gleich, diretora-executiva de Jornalismo e Esporte e secretária do Conselho Editorial da RBS
Imagine, por um instante, você não consumir mais notícias. Nenhuma. Não saber nada do que se passa no mundo, no Brasil ou mesmo na sua cidade. Pode parecer incrível, mas existe um número crescente de pessoas no planeta que evitam consumir informações jornalísticas.
Este fenômeno, chamado de news avoidance ou news fatigue (evitação ou cansaço de notícias), é estudado há muitos anos e, mais uma vez, faz parte de uma das mais importantes pesquisas sobre jornalismo: o relatório anual do Reuters Institute, da Universidade de Oxford, publicado essa semana.
Não nos furtamos da nossa responsabilidade, especialmente em relação às novas gerações
Um capítulo em especial chama atenção: como os 314 líderes de redações de 56 países ouvidos no estudo pretendem combater em 2024 o fenômeno, causado por diferentes motivos, como excesso de informação, fragmentação da atenção, cansaço pela polarização exacerbada no mundo, pouco tempo, anestesia provocada pelo consumo exagerado de redes sociais, falta de escolaridade ou não saber diferenciar conteúdo jornalístico profissional de conteúdo inverídico, não checado ou de baixa qualidade.
Segue o que os executivos de notícias responderam a respeito do que pretendem fazer a curto prazo para combater a tendência:
· 67% consideram explicar melhor temas complexos
· 44% pretendem intensificar o jornalismo construtivo, que busca não apenas apontar problemas, mas oferecer soluções
· 43% produzirão reportagens humanas, inspiradoras
· 35% investirão em uma equipe de reportagem mais diversa
· 35% utilizarão formatos ou linguagem mais acessíveis
· 21% colocarão notícias mais positivas em suas edições
· 18% mostrarão mais notícias de curiosidades ou de entretenimento
Nas reuniões do Conselho Editorial do Grupo RBS, repetidas vezes discutimos nosso papel de levar aos diferentes públicos do Rio Grande do Sul informações verdadeiras, precisas, plurais, no formato adequado, bem contextualizadas, com agilidade. Sabemos que muitos fatores influenciam os fenômenos news avoidance ou news fatigue, inclusive a falta de investimento em educação. Mas não nos furtamos da nossa responsabilidade, especialmente em relação às novas gerações. Buscamos, sempre, aprimorar nossa atividade para que não tenhamos, no futuro, um número crescente de pessoas que ignorem o que acontece à sua volta e, com isso, se tornem cidadãos menos participantes e responsáveis com sua comunidade.