Com alguma dose de razão, colegas de Rio e São Paulo caçoavam de mim, então diretor de Redação, sobre como a Zero Hora noticiaria que um cometa aniquilaria o planeta no dia seguinte. Enquanto a maioria diria que o mundo seria extinto, a manchete de ZH, segundo a zoeira deles, seria: “O Rio Grande do Sul acaba hoje”.
Noves fora a brincadeira, o fato é que a fórmula de sucesso da RBS na comunicação inclui, desde sua fundação, a alquimia de saber identificar e tratar de temas locais com qualidade, credibilidade, profundidade e atratividade, e entregar esses conteúdos aos públicos conforme suas esferas de interesse. “Se queres ser universal, começa por pintar tua aldeia”, sintetizava, com toda a propriedade, o escritor russo Leon Tolstói.
Um breve exemplo dessa convicção. Três dos maiores cronistas da RBS, já falecidos, construíram legiões de admiradores porque souberam ser universais falando de e no Rio Grande do Sul. O Bom Fim de Moacyr Scliar, o IAPI de David Coimbra e o entorno de Lupicínio Rodrigues expressado por Paulo Sant’Ana traduzem bem essa capacidade de enxergar o todo a partir da perspectiva local e transformá-la em visões únicas e globais.
O dilema de ser regional mas ao mesmo tempo universal e cosmopolita, sem resvalar para o provincianismo, permeia boa parte das discussões do Conselho Editorial da RBS. Uma palavra-chave para se perseguir essa linha editorial é singularidade. Os veículos da RBS nunca terão a melhor posição para cobrir o impacto econômico da covid-19 na China, mas devem ser os mais capacitados a entender e explicar como as perspectivas da economia chinesa afetam os ciclos econômicos gaúchos e a vida dos cidadãos comuns por aqui.
Com a lógica de cobrir os acontecimentos pela ótica gaúcha, cabe à RBS também estar presente nos locais e momentos decisivos do Brasil e do mundo. É por isso que a RBS investe no acompanhamento de jogos da Seleção, Olimpíadas, guerras e outros eventos marcantes, além de manter, há décadas, uma presença em Brasília, recentemente reforçada por Rodrigo Lopes. Quem quer que represente olhos e ouvidos dos gaúchos tem de saber cada vez mais pintar sua aldeia e ser ao mesmo tempo universal.