Em entrevista na manhã desta segunda-feira (22) ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, o presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), Rubens Barbosa, comentou a desistência de Joe Biden e o lançamento da campanha de Kamala Harris na corrida eleitoral dos Estados Unidos.
Apesar do favoritismo de Donald Trump, impulsionado pela tentativa de assassinato que sofreu no último dia 13, Barbosa ressalta que a sociedade estadunidense está muito dividida e que a polarização é inevitável.
— A sociedade está dividida quase 50 a 50. Vamos ter que acompanhar o resultado das eleições em alguns Estados, já que a legislação estadunidense é diferente da brasileira. O presidente da República é eleito pelo colégio eleitoral, formado pelos 50 Estados americanos, não é um voto majoritário como no Brasil — explica.
Segundo Barbosa, que também é ex-embaixador do Brasil em Londres e em Washington, a entrada de Kamala fortalece a candidatura democrata, pois é uma mulher negra, filha de imigrantes, e isso atrai as minorias para o pleito.
— Está muito cedo para avaliarmos como Kamala vai desempenhar seu papel. Qualquer pequena mudança na composição ou no apoio do eleitorado pode mudar o resultado geral da eleição. Então, acho que a principal característica do pleito nos Estados Unidos é essa polarização e divisão — detalha.
O presidente do Irice analisa ainda que a desistência de Biden para a reeleição foi uma combinação de dois fatores: a pressão da elite do partido e dos doadores da campanha após o desastroso debate frente a Trump.
— Acho que isso tornou inevitável a saída de Biden da disputa eleitoral. A economia estadunidense está indo muito bem, com alto crescimento e queda do desemprego. Mas os preços dos produtos de consumo imediato ainda estão muito altos, assim como os preços de casas e aluguéis. Isso tem tido um impacto muito negativo, e o Trump está aproveitando isso para criticar o Biden — completa.
Política externa
O ex-embaixador também projetou quais serão as posições das chapas sobre assuntos de política externa, como o embate econômico com a China, outra potência mundial.
— Acredito que tanto Kamala, se for escolhida, quanto Trump terão uma política restritiva importante em relação à China. Trump já disse que para muitos produtos vai colocar tarifas de até 200% para impedir a entrada de produtos chineses na economia estadunidense, a fim de proteger a indústria e o emprego dos cidadãos — relembra.
Sobre os conflitos no leste da Europa e no Oriente Médio, Barbosa afirma que uma possível eleição de Kamala manteria a posição do Biden a favor da Ucrânia e de Israel.
— No caso do Trump, certamente ele vai suspender os financiamentos para a Ucrânia e, indiretamente, favorecer a posição da Rússia. No caso de Israel, é diferente porque Trump tem uma ligação forte com Israel. Aí eu não sei se ele vai mudar de posição. Acredito que não, acho que ele vai manter a posição em relação a Israel — pontua.