O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que haverá presença e prontidão das Forças Armadas e de policiais nas ruas e comunidades do país a partir desta quarta-feira (31). A medida é uma resposta aos protestos que ocorrem desde a divulgação do resultado das eleições de domingo (28), creditando vitória ao governante.
De acordo com o g1, Maduro anunciou a medida em uma reunião conjunta do Conselho de Estado e de Defesa com autoridades de seu governo e informou a decisão à população em pronunciamento realizado nesta terça (30). O presidente declarou que quer "ver os policiais nas ruas até que haja a consolidação do plano de paz".
Ele também convocou seus apoiadores para comparecerem nesta quarta em frente ao Palácio de Miraflores, sede do governo, para uma manifestação em favor dele.
A apuração dos votos divulgada pela autoridade eleitoral é contestada pela oposição e por parte da comunidade internacional, que pedem a divulgação das atas com o registro dos votos.
Os protestos abrangem todas as regiões do país e resultaram em ao menos 11 mortes de civis e 84 feridos, segundo ONGs venezuelanas. O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, também relatou a morte de um militar e anunciou que 749 pessoas foram detidas.
O Ministério da Defesa mencionou que 23 militares sofreram ferimentos. O líder opositor Freddy Superlano foi preso hoje, no que a oposição chamou de "escalada repressiva".
Maduro responsabilizou seus principais opositores, María Corina Machado e Edmundo González, pelos atos e apontou que "a Justiça vai chegar para eles". Nesta terça, Maduro prometeu penas de até 30 anos para os manifestantes presos:
— Passarão, no mínimo, de 15 a 30 anos na prisão e, desta vez, não haverá perdão.
Maduro afirma ainda que a oposição, apoiada pela comunidade internacional, "pretende tomar o poder de maneira violenta" e alegou que diversas sedes do Conselho Nacional Eleitoral foram alvos de grupos criminosos, os quais ele chamou de terroristas. As sedes do CNE teriam máquinas queimadas e funcionários eleitorais agredidos.
Divulgação incompleta de resultado
A Venezuela foi às urnas no domingo, e, na madrugada de segunda-feira, o Conselho Nacional Eleitoral declarou Nicolás Maduro vencedor com 51,2% dos votos. O principal candidato da oposição, Edmundo González, ficou com 44% dos votos, ainda de acordo com a Justiça eleitoral do país.
No entanto, o resultado foi anunciado com 80% dos votos apurados, e as atas de votação, documentos que registram o número de votos e o resultado em cada local de votação, não foram divulgadas pelo CNE.
A oposição venezuelana contestou o resultado e acusou o CNE de fraude. Na noite de segunda, a oposicionista María Corina Machado afirmou ter obtido acesso a 73% das atas, que, segundo ela, dão vitória a Edmundo González.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) terá na quinta-feira uma reunião de emergência para discutir o resultado divulgado pelo CNE. O pedido foi feito por Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai.
Em uma carta conjunta, os países manifestam "profunda preocupação com o desenvolvimento das eleições presidenciais" na Venezuela e exigem uma "revisão completa dos resultados com presença de observadores eleitorais independentes que assegurem o respeito à vontade do povo venezuelano que participou de forma massiva e pacífica".
Nesta terça, Brasil, México e Colômbia devem divulgar uma declaração conjunta cobrando a divulgação das atas eleitorais por parte do governo.