A Coreia do Norte apoia plenamente a guerra da Rússia contra a Ucrânia, afirmou nesta quarta-feira (19) o líder do país, Kim Jong Un, durante a visita do presidente russo, Vladimir Putin, a Pyongyang. Os dois países assinaram um tratado de associação estratégica que prevê assistência mútua em caso de "agressão".
Durante a visita de Putin, os dois chefes de Estado assinaram um tratado de associação estratégica, no momento em que a Rússia enfrenta um relativo isolamento diplomático devido à invasão da Ucrânia e a Coreia do Norte permanece sob sanções por seu programa nuclear.
O dirigente norte-coreano recebeu Putin na pista do aeroporto durante a madrugada, com direito a tapete vermelho e ruas de Pyongyang decoradas com as bandeiras dos dois países, além de fotos gigantes de Putin.
— O tratado de associação global assinado hoje prevê, entre outras coisas, uma assistência mútua em caso de agressão a uma parte — declarou Putin, antes de explicar que a Rússia "não descarta" uma cooperação militar-técnica com a Coreia do Norte.
As potências ocidentais, que acusam a Coreia do Norte há vários meses de fornecer munições e mísseis à Rússia para a guerra na Ucrânia, temem um reforço da cooperação militar entre Moscou e Pyongyang.
— Rússia e Coreia têm uma política externa independente e não aceitam a linguagem da chantagem por parte do Ocidente — afirmou Putin à imprensa depois de assinar o tratado.
Kim celebrou uma "nova era" das relações bilaterais e afirmou que a "Coreia do Norte expressa pleno apoio e solidariedade ao governo" em sua ofensiva na Ucrânia, que motivou uma série de sanções contra Moscou.
O dirigente norte-coreano disse que o acordo de assistência mútua é de natureza "defensiva", segundo as agências de notícias russas, e chamou Putin de "melhor amigo" da Coreia do Norte.
Putin agradeceu a Kim pelo apoio "constante e inabalável" da Coreia do Norte, o convidou a visitar Moscou e afirmou que as sanções contra Pyongyang devem ser "revistas".
Moscou e Pyongyang são aliados desde o fim da Guerra da Coreia (1950-1953) e reforçaram as relações desde o início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Putin foi recebido com grande pompa na praça Kim Il Sung de Pyongyang, com banda militar e um espetáculo de dança, algo habitual nas cerimônias da Coreia do Norte.
Depois, os chefes de Estado iniciaram a reunião, o segundo encontro de ambos em menos de um ano. Kim visitou a Rússia em setembro. A visita anterior de Putin ao isolado país comunista aconteceu no ano 2000.
— A Rússia precisa do apoio da Coreia do Norte em termos de armamentos devido à prolongada guerra na Ucrânia, enquanto a Coreia do Norte precisa do apoio da Rússia em alimentos, energia e armas de ponta para aliviar a pressão das sanções —, disse Koh Yu-hwan, professor emérito de estudos norte-coreanos na Universidade de Dongguk, em Seul.
Putin viajou com o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, e com o ministro da Defesa, Andrei Belousov.
O presidente da Rússia, alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), reduziu as viagens ao exterior, mas visitou alguns aliados cruciais, como a China.
O apoio de Putin permite a Kim "equilibrar sua dependência" do seu outro aliado importante, a China, explicou à AFP Vladimir Tikhonov, professor da Universidade de Oslo. Em troca, "ele obtém um fornecimento seguro dos projéteis de artilharia de tipo soviético que precisa".
O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, fez um apelo à comunidade internacional para contra-atacar a "amizade" entre Putin e o líder norte-coreano aumentando os envios de armas a Kiev.
O governo dos Estados Unidos expressou "preocupação" com a viagem de Putin devido às consequências para a segurança da Coreia do Sul e da Ucrânia. Seul afirmou que acompanhou "de perto os preparativos" da visita.