O presidente da Rússia, Vladimir Putin, celebrou nesta terça-feira (18), o "apoio firme" da Coreia do Norte a respeito da invasão da Ucrânia, poucas horas antes de sua chegada a Pyongyang para uma visita incomum, precedida de incidentes na fronteira entre as Coreias.
Putin fará uma visita de Estado de dois dias, durante a qual deve assinar um acordo de associação estratégica com os norte-coreanos, cuja aliança é vista como uma ameaça pelo Ocidente.
Moscou e Pyongyang são aliados desde o fim da Guerra da Coreia (1950-1953), mas reforçaram os laços desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022.
— A Rússia apoiou (a Coreia do Norte) e seu heroico povo em sua luta para defender seu direito de escolher por si mesmos o caminho da independência, a originalidade e o desenvolvimento no enfrentamento ao astuto, perigoso e agressivo inimigo [...] e o apoiará constantemente no futuro — escreveu Putin em um artigo publicado no jornal oficial norte-coreano Rodong Sinmun, e na agência de notícias KCNA.
Ele também afirmou que Pyongyang "apoia firmemente" a ofensiva russa na Ucrânia e agradeceu ao regime norte-coreano.
As potências ocidentais acusam os norte-coreanos de entregar munições à Rússia para sua guerra na Ucrânia, em troca de assistência tecnológica, diplomática e alimentar.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, afirmou que a visita de Putin mostra o quanto a Rússia necessita do apoio de líderes autoritários para realizar sua ofensiva na Ucrânia.
Associação estratégica
— O que nos preocupa é o aprofundamento da relação entre esses dois países — disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby.
O assessor diplomático de Putin, Yuri Ushakov, apresentou a viagem como um evento importante para ambos os países, atingidos por sanções ocidentais, e mencionou a "possível" assinatura de "um acordo de cooperação estratégica global".
O presidente russo será acompanhado pelo chanceler Serguei Lavrov e pelo ministro da Defesa, Andrei Belousov.
Putin, que é alvo de um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), reduziu suas viagens ao exterior, mas realizou algumas visitas para encontrar aliados-chave, como a China.
Pequim pediu nesta terça-feira à Otan que "pare de atribuir a culpa" da guerra na Ucrânia, depois que Stoltenberg acusou o país asiático de agravar o conflito com o seu apoio à Rússia.
O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, fez um apelo à comunidade internacional para contra-atacar a "amizade" entre Putin e Kim com o aumento dos envios de armas a Kiev.
— A melhor forma de responder a isso é continuar fortalecendo a coalizão diplomática para uma paz justa e duradoura na Ucrânia e fornecer mais munições para a Ucrânia — disse Kuleba
A visita acontece nove meses depois de Putin receber Kim no extremo leste russo, onde ambos os líderes trocaram muitos elogios, mas não fecharam - pelo menos oficialmente - nenhum acordo.
Em março, a Rússia utilizou seu direito de veto no Conselho de Segurança da ONU para encerrar o sistema de monitoramento das sanções impostas à Coreia do Norte, que foram instauradas principalmente por causa do programa nuclear de Pyongyang.
Algumas horas antes da chegada de Putin a Pyongyang, dezenas de soldados norte-coreanos atravessaram brevemente a fronteira fortificada com a Coreia do Sul, mas recuaram rapidamente após os tiros de advertência, um incidente que o comando militar de Seul considera que foi acidental.
Este foi o segundo incidente similar em menos de duas semanas.
A Coreia do Sul afirmou que acompanha de perto os preparativos da visita de Putin.
Seul forneceu uma ajuda militar significativa à Ucrânia, país que o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol visitou no mês passado, e aderiu às sanções ocidentais adotadas contra Moscou.
Putin apresenta sua ofensiva na Ucrânia como uma batalha contra a hegemonia americana no cenário internacional.
Esta é a segunda visita à Coreia do Norte do presidente russo. A primeira aconteceu há quase 25 anos, pouco depois de sua chegada ao poder, para uma reunião com o pai de Kim Jong Un, Kim Jong Il.