O ataque com um carro à casa de um prefeito do subúrbio parisiense marcou a quinta noite consecutiva de protestos na França. Os atos ocorrem após a morte de Nahel, um jovem de 17 anos que foi morto a tiros à queima-roupa por um policial durante um controle de tráfego, na terça-feira (27), em Nanterre, perto de Paris.
O caso causou indignação e mobilizou protestos na França e para além de suas fronteiras, especialmente na Argélia, país de origem da família do jovem morto. O policial que atirou, de 38 anos, está detido, acusado de homicídio doloso.
O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou uma reunião sobre a situação neste domingo (2) à noite, com a primeira-ministra e os ministros do Interior e da Justiça.
Na madrugada, um carro colidiu com a casa do prefeito da pequena localidade de L'Haÿ-les-Roses, e depois pegou fogo. A esposa e um de seus dois filhos pequenos ficaram levemente feridos, enquanto o prefeito, Vincent Jeanbrun, do partido de direita Os Republicanos, estava na prefeitura coordenando a resposta aos distúrbios.
De acordo com o Ministério Público, os primeiros indícios são de que "o veículo foi lançado com a intenção de incendiar a casa".
A primeira-ministra Elisabeth Borne classificou o ataque como "intolerável" e a Associação de Prefeitos da França (AMF) convocou uma manifestação na segunda-feira ao meio-dia (7h em Brasília), em frente às prefeituras de todo o país.
Segundo o presidente da associação, David Lisnard, desde terça-feira "150 prefeituras ou prédios municipais foram atacados".
Um chamado à calma
Pela terceira noite consecutiva, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, mobilizou 45 mil policiais e guardar em todo país. Na noite de sábado (1), foram mobilizados até 7 mil em Paris e nos subúrbios da capital francesa, com reforços significativos em Marselha (sul) e Lyon (leste), as principais cidades afetadas no dia anterior pelos confrontos, destruições e saques.
O Ministério do Interior anunciou um total de 719 detenções em todo o país na madrugada de domingo, frente aos 1,3 mil de sábado. "Uma noite mais tranquila, graças à ação decidida das forças de segurança", disse Darmanin.
Cerca de 45 policiais e guardas ficaram feridos, 577 veículos e 74 edifícios foram incendiados e 871 incêndios foram registrados em vias públicas, informou o ministério.
"Chega, parem de vandalizar", pediu a avó de Nahel em entrevista à rede BFMTV, um dia após o enterro de seu neto em Nanterre, perto de Paris.
"Não quebrem as janelas, não destruam as escolas, os ônibus... são as mães que usam o ônibus", acrescentou.
Preocupação no exterior
Macron, que no sábado decidiu adiar sua visita de Estado à Alemanha, enfrenta sua segunda grande crise em poucos meses, após os protestos contra a reforma da Previdência.
O chefe de Governo alemão, Olaf Scholz, disse estar "preocupado", embora tenha se mostrado "totalmente convencido de que o chefe de Estado francês encontrará os meios para que a situação melhore rapidamente".
A violência na França, que sediará a Copa do Mundo de Rúgbi este ano e os Jogos Olímpicos em 2024, preocupa o exterior. Vários países aconselharam seus cidadãos a não viajarem para as áreas afetadas pela violência.
A ONU alertou, na sexta-feira, para os "profundos problemas de racismo e discriminação racial" entre as forças de segurança francesas, considerações que o governo considerou "totalmente infundadas".
A violência e a raiva dos jovens das áreas populares lembram os distúrbios que abalaram a França em 2005, após a morte de dois adolescentes perseguidos pela polícia. Em Paris e em Marselha, a polícia mobilizou importantes dispositivos de segurança nas regiões centrais.
Na tentativa de conter a espiral de violência, muitas cidades francesas impuseram toque de recolher e proibiram a circulação de ônibus e VLTs a partir das 21h.