Um jovem de de 17 anos foi morto por um policial, em Paris, na França, após o adolescente ter se negado a obedecer as ordens de dois agentes durante uma operação de controle de trânsito em Nanterre, uma localidade ao oeste da capital francesa.
Em razão disso, o país, mas sobretudo Paris, tem enfrentado uma onda de protestos. De acordo com as autoridades, 150 pessoas foram detidas por uma "violência" que o presidente Emmanuel Macron chamou de "injustificável".
— As últimas horas foram marcadas por cenas de violência contra uma delegacia, mas também contra escolas, prefeitura e, portanto, contra as instituições da República (...) São injustificáveis — disse Macron no início de uma reunião de crise.
A tensão é grande nos subúrbios da capital francesa: o governo mobilizou dois mil agentes das forças de segurança durante a noite para tentar evitar novos distúrbios, mas os protestos também foram organizados em outras regiões como Lyon à leste, Toulouse, no sudoeste, ou Lille, ao norte.
Em Nanterre, um subúrbio a 15 km a oeste de Paris, onde o adolescente foi morto na manhã de terça-feira (27), a polícia disparou gás lacrimogêneo para dispersar multidões que incendiaram carros, e no nordeste de Paris, o jornal francês Le Monde relatou um confronto de três horas entre manifestantes e a polícia.
Um jardim de infância foi danificado e veículos da polícia foram queimados em Neuilly-sur-Marne, na região metropolitana de Paris. Em Toulouse, manifestantes dispararam fogos de artifício contra policiais.
Além de carros e inclusive um ônibus em Grigny, ao sudeste de Paris, os manifestantes incendiaram escolas em várias cidades como Tourcoing ou Evreux, que fica 90 quilômetros ao oeste da capital, e várias delegacias.
— Estamos cansados deste tratamento. Isto é por Nahel, nós somos Nahel — gritaram os jovens, que enfrentaram a polícia em alguns momentos durante a noite no subúrbio nordeste de Paris.
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, anunciou que 150 pessoas foram detidas durante a noite e denunciou "atos de violência insuportáveis contra símbolos da República". Ele também criticou as pessoas que não pediram calma.
A segunda noite de distúrbios aconteceu algumas horas antes de uma passeata em homenagem a Nahel convocada pela mãe do jovem e que deve acontecer diante da prefeitura de Nanterre, perto do local em que o adolescente morreu.
— É uma revolta por meu filho — declarou.
O agente de 38 anos suspeito de ter atirado contra Nahel está sob custódia policial. Ele foi interrogado como parte de uma investigação aberta por homicídio doloso, segundo o Ministério Público.
A família do adolescente apresentará uma queixa por homicídio intencional contra o policial, disse o advogado da família em um comunicado.
Em um primeiro momento, fontes policiais afirmaram que um agente abriu fogo quando o motorista do veículo tentou avançar contra dois integrantes da força de segurança perto de uma estação de trem.
Porém, um vídeo publicado nas redes sociais, cuja autenticidade foi comprovada pela AFP, mostra o momento em que um agente aponta uma arma para o motorista e atira à queima-roupa quando ele acelera com o veículo. Na gravação é possível ouvir a frase:
— Você vai levar um tiro na cabeça — mas não fica claro quem a pronuncia.
A fuga do jovem terminou poucos metros à frente, quando o carro bateu contra um poste. A vítima morreu pouco depois de ser atingida por um tiro no tórax.
A recordação de 2005
A morte de Nahel provocou um grande movimento de indignação, de Macron ao astro do futebol francês Kylian Mbappé, e a retomada do debate recorrente sobre a violência policial no país. Treze pessoas morreram em circunstâncias similares em 2022.
E também provoca a recordação dos distúrbios de 2005 nos subúrbios das grandes cidades, depois que dois adolescentes morreram eletrocutados quando fugiam da polícia em Clichy-sous-Bois, ao noroeste de Paris.
O governo do então presidente conservador Jacques Chirac decretou estado de emergência, pela primeira vez na França metropolitana desde o fim da guerra de independência da Argélia. Os dois policiais acusados foram absolvidos em 2015.