A ameaça de prisão no Irã paira sobre qualquer suspeito de criticar o regime, incluindo celebridades, em meio à atual onda de protestos no país.
O Irã passa por grandes manifestações desde a morte, em 16 de setembro, de Mahsa Amini, uma curda iraniana de 22 anos que morreu três dias depois de ser detida pela polícia da moral em Teerã por supostamente não respeitar o rígido código de vestimenta das mulheres, que inclui o véu obrigatório.
Como aconteceu em outros movimentos de contestação no passado, as autoridades reprimem brutalmente as manifestações, matando várias dezenas de pessoas, segundo organizações de direitos humanos.
Além disso, um número crescente de manifestantes tem ido para a prisão, especialmente aqueles que filmam os confrontos ou postam mensagens contra o regime nas redes sociais.
De acordo com a ONG Center for Human Rights in Iran (CHRI), pelo menos 1.200 pessoas foram detidas, incluindo 92 ativistas e membros da sociedade civil.
As últimas prisões ocorreram, não em protestos de rua, mas diretamente em suas casas ou locais de trabalho.
"Houve prisões em massa", especialmente contra "ativistas culturais, ativistas dos direitos das mulheres e jornalistas. Qualquer pessoa que possa divulgar informações para o mundo exterior ou redes internas" sobre o que está acontecendo no Irã, explica Roya Boroumand, diretora executiva do Washington Abdorrahman Boroumand pelos Direitos Humanos.
Milhares de prisões
Os atuais protestos e a reação das autoridades parecem diferentes da última contestação, em novembro de 2019, na qual a Anistia Internacional acusou o regime de ter matado pelo menos 321 pessoas em uma semana particularmente brutal de repressão.
Atualmente, e há três semanas, as manifestações se espalham por todo o país, envolvendo todos os grupos da sociedade iraniana e assumindo todos os tipos de formas, desde protestos de rua a marchas estudantis ou gestos individuais de desafio, com inúmeras mulheres tirando o véu em público e até queimando-o.
A principal tática das autoridades é "prender centenas, até milhares de pessoas", diz Shadi Sadr, diretora da ONG Justice for Iran, com sede em Londres.
Até agora, "eles não matam tanto quanto são capazes, embora possam em um futuro próximo. Mas prendendo 100 pessoas consideradas, com ou sem razão, figuras-chave nas manifestações, acreditam que podem controlar os protestos para que morram", considera.
Mesmo antes da atual onda de prisões, as autoridades prenderam personalidades culturais, como os cineastas Jafar Panahi e Mohammad Rasulof, que permanecem na prisão.
Além de estudantes e cidadãos comuns, a lista de presos inclui celebridades e pessoas conhecidas, como atletas, artistas, jornalistas, advogados e ativistas.
O jogador de futebol Hossein Mahini foi preso por expressar apoio às manifestações, assim como o artista Shervin Hajipour, conhecido por sua música "Baraye" em apoio aos protestos, que foi vista 40 milhões de vezes no Instagram.
Em sua primeira aparição em vídeo no domingo desde sua libertação, Hajipour disse que só queria "expressar sua simpatia" pelos manifestantes.
As autoridades também recorrem à intimidação: a lenda do futebol iraniano Ali Daei, o segundo maior artilheiro da história da seleção nacional de futebol, teve seu passaporte confiscado nesta segunda-feira, depois de denunciar a "violência" das autoridades e a "repressão" contra as manifestações.
O influente blogueiro de tecnologia Amiremad Mirmirani, mais conhecido por seu pseudônimo "Jadi", foi preso em sua casa em 5 de outubro por agentes de segurança.
"Isso não é uma repressão, é uma tentativa de aniquilar a sociedade civil", disse Hadi Ghaemi, diretor executivo da CHRI. "O governo iraniano continua mostrando que tem medo de seu próprio povo."