As ruas aqui são apertadas. Prédios medievais — um grudado no outro e todos da mesma cor. Essa é a chamada cidade antiga, que fica bem no meio de Edimburgo. Aqui estão castelos e igrejas seculares (Holyroodhouse foi construído em 1128). É o cenário de um filme daqueles bem antigos.
Da estação do trem que vem de Londres até aqui, caminhei só cinco minutos. A estação fica nessa parte histórica da capital da Escócia. Pela beleza do lugar, esse é o segundo destino mais procurado pelos turistas em todo o Reino Unido. Só por isso, muita gente já estaria aqui de qualquer jeito. Mas hoje não é um domingo qualquer.
Está previsto para as 16h30min, horário local (12h30min no Brasil), a passagem do cortejo com o corpo da rainha Elizabeth II. Do castelo de Balmoral, que fica ao norte da Escócia até aqui, são 280 quilômetros. O carro fúnebre deixou Balmoral às 10h26min. Sendo assim, serão em torno de seis horas de cortejo.
Em Edimburgo, o carro com o caixão vai passar pela Royal Mile, um conjunto de ruas históricas que liga o Castelo de Edimburgo ao palácio de Holyroodhouse — hoje o corpo será levado para esse local. Na segunda-feira (12), volta duas quadras e ficará na catedral St. Giles.
A Escócia fica ao norte da Inglaterra. De Londres até Edimburgo, são cinco horas de trem. Hoje, eu levei seis horas e meia. Os vagões estão cheios. Não há como comprar passagens até terça-feira (13). Este fim de semana seria o início de uma greve dos ferroviários do Reino Unido, que foi suspensa em respeito à morte de Elizabeth II e para não criar um caos ainda maior.
Alguns moradores de Edimburgo chegaram cedo para garantir um lugar em frente à grade de isolamento. A maior parte, sem dúvida, é de pessoas com mais de 50 anos. A ligação da rainha com a Escócia é antiga. Ela passou parte da infância no castelo onde morreu. E era aqui que passava as férias de verão. Os escoceses têm orgulho disso.
A passagem do corpo pela cidade só ocorre ocorrendo porque ela morreu no país. Caso ela morresse na Inglaterra, isso não aconteceria.
Há policiais por toda parte. Muito educados, conversam com as pessoas e perguntam nas grades se os idosos estão bem. As ruas, mesmo que abarrotadas de gente, estão silenciosas. Dá para ouvir a respiração ofegante de quem tenta passar atrás da multidão.
Eu cheguei duas horas antes da passagem do corpo. Meu lugar é na terceira fila. Isso porque contei com a gentileza de alguns moradores locais, que perceberam que eu estava gravando e me deixaram ficar um pouco mais à frente.