Em uma manhã, caminhei 10 quilômetros na volta do Palácio de Buckingham, em Londres. Parte do trajeto com muito chuva — detalhe, não há nenhum abrigo, e eu estava sem guarda-chuva.
Da metade da manhã em diante, os arredores do palácio mudaram muito. Muitas grades foram instaladas, e a polícia permite um sentido apenas de passagem pela frente dos portões. Revolvi dar uma volta e, ao chegar no fim do trajeto, a minha surpresa:
— Não pode voltar, tem que entrar por lá mais uma vez — disse um policial.
Uma volta por uma quadra de Londres já é uma boa caminhada. Uma volta inteira em um palácio que ainda tem um grande jardim é ainda mais exaustivo. Sou acompanhado por uma multidão que tem a mesma ideia que eu: voltar para a frente de Buckingham.
Nessa altura já tinha comprado um guarda-chuva, mas o as nuvens foram embora e ele ficou na mochila. Outra parte complicada nessa cobertura é o sinal de internet para me comunicar com a redação em Porto Alegre. No meio do povo, sinal nenhum funciona. É como se estivesse viajando em alguma estrada pelo Rio Grande do Sul, que também não tem bom sinal de internet móvel.
A diferença é que aqui é o motivo é a quantidade de aparelhos conectados. As homenagens à rainha Elizabeth II não são apenas transmitidas por canais oficiais. Todos querem postar algo sobre o assunto. Fotos, vídeos, ligações. Resultado: não há antena suficiente que dê conta da popularidade da Betinha.
Mas no meio do caminho, nesses quilômetros e quilômetros a pé — isso porque até para chegar perto do palácio tem que andar muito —, os tiros de canhões. Pensei que era barulho de alguma obra da vizinhança da família real. Essa região de Londres está crescendo muito, assim como todos outros bairros para esse lado do Rio Tâmisa. Logo depois me dei conta. Eram os tiros dos canhões da cavalaria real.
Fui na direção do som. Andei lado a lado à cavalaria. Vi ingleses chorando, enchi os olhos de lágrima. Não era súdito da rainha, mas, de alguma maneira, senti naquele instante que uma pessoa muito querida partiu.
Não foi apenas a rainha do Reino Unido. Um brasileiro que está morando aqui me disse hoje: "A gente sabia que ela estava doente, mas ela parecia imortal". E com tudo que estou vendo aqui, já posso garantir que esquecida ela nunca será.