O Irã prendeu uma repórter que cobria o funeral de Mahsa Amini nesta quinta-feira (29), disse seu advogado. Esta é a mais recente de uma série de prisões de jornalistas em ascensão desde que tiveram início os protestos pela morte da jovem presa pela polícia moral e que estava sob custódia das autoridades.
Elahe Mohammadi foi convocada pelas autoridades judiciais, mas foi detida pelas forças de segurança a caminho do interrogatório, disse seu advogado Mohammad Ali Kamfirouzi no Twitter. Na semana passada, as forças de segurança já revistaram a casa de Mohammadi em Teerã, acrescentou seu advogado.
O marido da jornalista indicou no Twitter que, em um breve telefonema, Mohammadi disse a ele que estava sendo transferida para a prisão de Evin, na capital iraniana, e que não foi informada sobre as acusações contra ela.
Mohammadi cobriu para o jornal iraniano Ham Mihan o funeral de Amini, 22 anos, que morreu em 16 de setembro depois de passar três dias em coma após ser detida em Teerã. O funeral de Amini em sua cidade natal de Saghez, na província do Curdistão, foi um dos pontos de partida para os protestos.
A detenção de Mohammadi ocorre depois que a polícia prendeu a jornalista do jornal Shargh, Nilufar Hamedi, que foi ao hospital onde Amini estava em coma e ajudou a divulgar o caso ao mundo. Hamedi continua presa, também em Evin, e o marido dela disse que ainda não sabe do que ela está sendo acusada.
ONGs de direitos humanos acusam o Irã de realizar uma campanha de prisão de jornalistas críticos às autoridades iranianas, especialmente aqueles que cobriram a morte de Amini. Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), pelo menos 25 profissionais foram detidos desde o início das manifestações.
Celebridades advertidas
Neste contexto de inquietação e repressão social, as autoridades iranianas lançaram um alerta nesta quinta-feira (29) às celebridades que apoiarem os protestos desencadeados pela morte de Amini.
— Tomaremos ações contra os famosos que sopraram as brasas dos distúrbios — disse o governador da província de Teerã, Mohsen Mansouri, segundo a agência de notícias ISNA.
Vários atletas, atores e cineastas iranianos apoiam o movimento de protesto e pediram às autoridades que ouçam as demandas da população. No domingo (25), por exemplo, o diretor de cinema iraniano Asghar Farhadi, vencedor do Oscar, pediu ao mundo que demonstre solidariedade com os manifestantes.
— Convido todos os artistas, cineastas, intelectuais, ativistas dos direitos civis em todo o mundo (...) todos que acreditam na dignidade humana e na liberdade, a se solidarizarem com as poderosas e corajosas mulheres e homens do Irã, fazendo vídeos, escrevendo, ou de qualquer outra maneira — declarou Farhadi em uma mensagem de vídeo publicada no Instagram e reproduzida em texto.
O ex-astro da seleção iraniana de futebol, Ali Karimi, também publicou várias mensagens de apoio às manifestantes em suas redes sociais.
No início da semana, o atacante iraniano Sardar Azmoun, craque da seleção e jogador do Bayer Leverkusen, disse que não poderia ficar calado diante das inúmeras mortes deixadas pela repressão.
"Isso não pode ser apagado da nossa consciência. Vocês deveriam ter vergonha!", escreveu ele nas redes sociais.