Manifestantes iranianos desafiaram as advertências judiciais e tomaram as ruas no domingo (25), pela 10ª noite consecutiva, para protestar contra a morte da jovem Mahsa Amini quando ela estava sob custódia da polícia da moral. Ao repetir uma advertência do presidente Ebrahim Raisi, o chefe do Poder Judiciário, Gholamhossein Mohseni Ejei, insistiu na necessidade de "agir com decisão e sem clemência" contra os principais instigadores dos "distúrbios", segundo o site Mizan Online.
Ao menos 41 pessoas morreram desde o início dos protestos, em sua maioria manifestantes, mas também integrantes das forças de segurança, de acordo com o balanço oficial. Outras fontes citam um número maior de vítimas fatais.
Estes são os maiores protestos no Irã em quase três anos, e as forças de segurança utilizaram balas letais e de borracha, de acordo com grupos de defesa dos direitos humanos, enquanto os manifestantes responderam com pedras, queimaram viaturas policiais e incendiaram edifícios públicos.
O grupo Direitos Humanos no Irã (IHR) afirmou no domingo à noite que pelo menos 57 pessoas morreram nas manifestações, mas destacou que os cortes de internet dificultam a confirmação do balanço dos protestos, que acontecem em várias cidades.
Centenas de manifestantes e jornalistas foram detidos nos protestos, que começaram após o anúncio da morte de Amini, em 16 de setembro. Amini, de origem curda, permaneceu detida por três dias por supostamente violar as regras que exigem o uso de um véu para cobrir totalmente o cabelo, assim como proíbem o uso de calças rasgadas e roupas brilhantes.
Imagens divulgadas pelo IHR mostram os manifestantes nas ruas Teerã gritando "morte ao ditador", supostamente no domingo à noite. Testemunhas afirmaram à AFP que os protestos continuam em várias cidades — em localidades como Tabriz e Shiraz, as mulheres retiravam os véus e gritavam frases contra as autoridades.
Cortes de internet
Várias mulheres queimaram os véus e cortaram o cabelo. Algumas dançaram perto de grandes fogueiras diante dos aplausos da multidão que gritava "zan, zendegi, azadi" (mulher, vida, liberdade).
Vídeos dos protestos de sábado (24), verificados pela AFP, mostram estudantes derrubando uma imagem do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, perto de uma universidade na província de Mazandaran (norte).
O NetBlocks, que monitora a internet ao redor do mundo, citou no domingo "apagões contínuos e restrições generalizadas nas plataformas de internet", depois que WhatsApp, Instagram e Skype foram bloqueados.
As autoridades já haviam proibido o uso de Facebook, Twitter, Tiktok e Telegram. Também foram registradas manifestações de solidariedade às iranianas em várias capitais ao redor do mundo.
O ministério iraniano das Relações Exteriores convocou no domingo o embaixador britânico para explicar o que Teerã chamou de "incitação aos distúrbios" na imprensa em língua farsi de Londres.
O porta-voz do ministério, Hossein Amir-Abdollahian, criticou a "abordagem intervencionista americana nas questões do Irã (...) incluindo as ações provocadoras de apoio aos agitadores".
Paralelamente, autoridades iranianas voltaram a organizar manifestações em defesa do hijab e dos valores conservadores. No principal evento pró-governo celebrado no domingo na praça Enghelab (Revolução) de Teerã, os manifestantes expressaram apoio às leis sobre o véu.
— Houve mártires que morreram para que este hijab estivesse em nossas cabeças — disse a manifestante Nafiseh, 28 anos, que se opõe ao uso voluntário do hijab.
O principal movimento reformista do país, o Partido Popular União Islâmica do Irã, pediu o fim do código obrigatório de vestimenta. O IHR informou no domingo que sindicatos iranianos convocaram professores e alunos a boicotar as aulas na segunda-feira e quarta-feira em apoio aos protestos.
As autoridades iranianas não divulgaram a causa da morte de Amini, que, segundo ativistas, morreu depois de ser agredida na cabeça. O ministro do Interior, Ahmad Vahidi, afirmou que Amini não foi agredida e que é necessário "aguardar o relatório final do médico legista.