Os danos infligidos por um drone americano que "erroneamente" matou dez membros de uma família afegã no final de agosto de 2021 ainda são visíveis na casa, mas um ano depois a maioria dos sobreviventes fugiu e espera um futuro melhor longe de casa.
Aimal Ahmadi, de 32 anos, perdeu dez membros de sua família, incluindo sua filha. O homem fugiu do Afeganistão com alguns parentes e está em um campo de refugiados no Catar aguardando transferência para os Estados Unidos.
"Não desejo que nenhum ser humano passe pelo que passei, é terrível, é inimaginável", disse do Catar.
Em 29 de agosto de 2021, a filha de Ahmadi, uma menina chamada Ahmadi Malika, que tinha três anos, seu irmão Ezmarai e vários de seus sobrinhos e sobrinhas foram mortos no ataque.
As vítimas estavam perto de um carro da família quando foram confundidos com um alvo por um drone americano.
Essa família foi vítima das últimas mortes de civis atribuídas às forças dos Estados Unidos em meio à saída caótica das tropas de Washington de Cabul em 30 de agosto do ano passado, permitindo que o Talibã assumisse o controle total do país.
Poucos dias depois, o Pentágono admitiu que cometeu um "erro" ao identificar o Toyota da família como do grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
O Pentágono não puniu os envolvidos no incidente. "Não havia um argumento forte o suficiente para responsabilização", disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby, na época.
O governo dos EUA está atualmente tentando realojar membros da família, segundo Ahmadi.
O drone atingiu a casa três dias após um ataque suicida no aeroporto de Cabul que matou mais de 150 pessoas, incluindo 13 soldados americanos, aumentando as tensões nos últimos dias de presença das tropas no país.
De acordo com os militares dos EUA, cerca de 188 civis foram mortos pelas forças americanas no Afeganistão desde 2018.
- Indenização -
Um ano após a tragédia, a casa de dois andares localizada em uma rua estreita no bairro de Khwaja Bughra, no norte de Cabul, agora é habitada por uma dúzia de parentes distantes.
O local ainda carrega as cicatrizes do ataque. As janelas que foram arrancadas pela explosão já foram consertadas, as paredes do pátio foram reformadas e pintadas.
Mas no chão ainda faltam azulejos onde o drone atingiu.
O outro veículo de propriedade desse grupo familiar - que foi totalmente queimado pela explosão - ainda está no meio do pátio, coberto por uma lona.
"Não nos desfizemos dele para recordar a memória das vítimas e porque salvou vidas protegendo as mulheres que estavam dentro de casa", contou o sobrinho de 20 anos de Ahmadi, Nasratullah Malikzada, que agora é o responsável pela casa.
Mostrando um local onde penduraram retratos dos dez parentes mortos, o jovem afegão diz que a situação é "muito triste".
"É a vontade de Deus, o que aconteceu já aconteceu, não podemos voltar no tempo. Deus vai punir os responsáveis na vida após a morte", disse.
O anúncio de que os Estados Unidos pagariam uma indenização financeira à família despertou o interesse alheio, dada a aguda crise no Afeganistão.
Após o ataque, Ahmadi perdeu o emprego em empresas estrangeiras e um de seus irmãos foi ameaçado por estranhos que tinham ouvido falar da indenização.
Mas até hoje a família não recebeu nada dos Estados Unidos e teve que contratar um advogado para se defender, disse Ahmadi.
O advogado não foi localizado para comentar o caso.
Exausto, Ahmadi conta estar confiante de que o governo dos EUA compensará sua família.
Assim que conseguir completar a papelada, ele espera se reunir com seus dois irmãos que já estão nos Estados Unidos.
Ele tem uma irmã doente que ainda está no Afeganistão e aguardando evacuação e que fugiu de sua casa para ficar em um lugar mais seguro em Cabul.
"Espero ter um futuro melhor", conclui Ahmadi.
* AFP