Aos gritos de "morte" ao partido no governo, manifestantes marcharam nesta terça-feira (14) na Bolívia pedindo liberdade para a ex-presidente interina Jeanine Áñez, condenada a dez anos de prisão por assumir irregularmente o poder após a renúncia de Evo Morales.
— Este é um julgamento político; é um julgamento de vingança — declarou a filha da ex-presidente interina, Carolina Ribera, durante o protesto em La Paz.
Os manifestantes, que levavam cartazes com frases como "liberem Jeanine" e "justiça digna para todos", pertenciam a movimentos e partidos que se opõe ao Movimento ao Socialismo (MAS), partido no poder.
— Ela é uma presa política — garantiu Kevin Vargas, um manifestante de 26 anos.
Na noite de sexta-feira, um tribunal de La Paz declarou Áñez, que presidiu interinamente o país entre 2019 e 2020, culpada pelos crimes de violação de deveres e resoluções contrárias à Constituição.
A família de Áñez anunciou que vai recorrer da decisão em todas as instâncias judiciais na Bolívia antes de ir à justiça internacional. O Ministério Público, que almeja uma sentença de 15 anos, também vai recorrer.
A Justiça considera que Áñez assumiu a presidência de forma inconstitucional em novembro de 2019 após a renúncia de Morales (2006-2019), em meio a protestos por uma suposta fraude eleitoral denunciada pela Organização de Estados Americanos (OEA).
Na segunda-feira, senadores americanos dos partidos democrata e republicano denunciaram em uma declaração conjunta "a contínua politização" do poder judicial da Bolívia, após a decisão contra a ex-presidente.
Além disso, um grupo de 23 ex-presidentes de países ibero-americanos pediu na semana passada à ONU e à União Europeia que "repudiem a intenção de condená-la arbitrariamente".
Áñez, advogada e ex-apresentadora de televisão que atuava como segunda vice-presidente do Senado, tornou-se presidente para organizar novas eleições depois que todos os que a precederam na sucessão presidencial renunciaram: o vice-presidente, o chefe da Câmara Alta e o presidente da Câmara dos Deputados.
O Tribunal Constitucional endossou o procedimento pelo qual Áñez chegou à presidência.
As eleições foram realizadas em outubro de 2020 após dois adiamentos devido à pandemia e tiveram Luis Arce, herdeiro político de Morales, como vencedor.
Em 2021, um grupo de especialistas contratados pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em acordo com a Bolívia, confirmou dezenas de mortes e "graves violações de direitos humanos" durante incidentes de repressão após Áñez chegar ao poder em novembro de 2019.
O relatório da CIDH também questiona a independência do sistema judicial boliviano.