O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu na terça-feira (2) à noite "desfazer a vergonha" herdada de seu antecessor Donald Trump: a separação de famílias migrantes na fronteira com o México, a grande maioria centro-americanas e pela qual centenas de crianças permanecem afastadas de seus pais.
— A administração anterior literalmente arrancou as crianças dos braços de suas famílias (...) sem nenhum plano em absoluto para reuni-los — afirmou o democrata ao assinar um decreto que cria um grupo de trabalho para localizar estes menores.
Biden também assinou ordens executivas para abordar as causas fundamentais da migração e da política de asilo, e para agilizar o sistema de imigração legal. As três iniciativas se somam a outras anunciadas em seu primeiro dia no cargo, com as quais pretende reverter o enfoque anti-imigração "Estados Unidos em primeiro lugar" de Trump.
— Não estou fazendo uma nova legislação, estou eliminando as políticas ruins — disse o presidente democrata.
Ao lado de Biden no Salão Oval estava Alejandro Mayorkas, que se tornou o primeiro latino e imigrante a comandar o Departamento de Segurança Interna (DHS), responsável por supervisionar a política migratória e fronteiriça do país.
Mayorkas, nascido em Havana há 61 anos e que chegou muito pequeno aos Estados Unidos ao lado dos pais refugiados, foi confirmado na terça-feira por 56 votos contra 43 no Senado. Ele será responsável por implementar as diretrizes de Biden.
— Espero com ansiedade sua liderança e trabalhar com o Congresso em muitos temas, incluindo o projeto de lei de imigração que, acredito, tem um grande apoio nas duas Câmaras — disse Biden.
Ao assumir a presidência, Biden enviou ao Congresso um projeto de lei para legalizar quase 11 milhões de estrangeiros sem documentos, mais da metade mexicanos e centro-americanos. Esta ambiciosa reforma migratória precisa superar, no entanto, a relutância de muitos republicanos.
Como demonstração dos receios, o senador republicano Lindsey Graham lamentou os esforços de Biden para "suprimir parte dos avanços" de Trump contra a imigração ilegal. Ele afirmou que as medidas do presidente são "receitas para o desastre e criarão um fluxo na fronteira".
Em uma entrevista coletiva, a porta-voz de Biden, Jen Psaki, desestimulou qualquer viagem de migrantes aos Estados Unidos.
— Precisamos de tempo para colocar em prática um processo de imigração para que as pessoas possam ser tratadas com humanidade — disse.
O grupo de trabalho liderado por Mayorkas deverá identificar pais e filhos separados pela política de "tolerância zero" de Trump, instaurada entre 2017 e 2018.
Isto provocou a expulsão dos adultos que entraram de modo ilegal nos Estados Unidos e a permanência dos menores sob custódia federal. Diante da indignação nacional e internacional, Trump desistiu de aplicar a medida. Mas ao menos mil famílias ainda podem estar separadas, segundo a organização de defesa dos direitos civis ACLU.